Preciso Viajar

A volta para o Brasil

“Home is where the heart is”. Quando eu voltei para Curitiba, meu coração definitivamente não estava na cidade. Após um ano intenso e que foi sem dúvidas o melhor ano da minha vida, tenho que admitir que pegar o último voo da minha volta ao mundo não foi fácil.

Como sempre, não mentirei e não esconderei os detalhes mais sórdidos. Voltar não foi tão legal assim. Como eu já imaginava, cada um levou a sua vida, enquanto eu levava a minha viajando. E, embora eu relutasse em aceitar que a partir do momento que pisasse em solo brasileiro, várias futilidades voltariam a fazer parte da minha vida, tudo isso aconteceu.

Conheci uma suíça em Bali. O nome dela é Nadine. Ela passou uma temporada em um ashram na Índia, no mesmo estilo de Comer, Rezar e Amar. Ela ficou horas me contando da sua grande transformação pessoal e como ela achava que tinha evoluído como pessoa, aí ela finalizou com a seguinte frase – “voltei para a Suíça e em menos de 10 dias, já levava a boa e velha vida de sempre, sem me preocupar com os detalhes mais sórdidos do mundo”. Eu lembro que minhas palavras foram –  “no meu caso, é impossível voltar àquela vida de sempre, depois de ver tanta pobreza e miséria, ainda mais voltando para o meu país que é pobre e cheio de desigualdade social”.

Não deu 10 dias e pressionada pela sociedade, fui ao salão. Cortei e pintei meu cabelo, fiz escova progressiva, manicure, pedicure, enfim, tudo que tinha direito. Não vou ser hipócrita e dizer que não fiquei feliz fazendo isso, mas fiquei triste ao perceber que teria que voltar ao velho “sistema”.

Eu amava tanto a minha vida mundana, as pessoas que eu ía conhecendo pelo caminho que sequer se importavam se minhas unhas estavam com ou sem cutícula, com ou sem esmalte. Cheguei a passar meses sem nem pentear o cabelo direito e por que automaticamente essas coisas passaram a ser importantes assim que pisei em solo brasileiro?

Essa é uma coisa que talvez só quem já tenha morado fora vá entender. São as diferenças gritantes entre o estilo de vida brasileiro e o estilo de vida europeu. Como sofre aquele que volta após uma longa temporada no exterior…

Por mais que eu tenha tentado evitar o assunto “volta ao mundo”, esse assunto sempre fará parte da minha vida. Mas quem realmente se interessa por ele, são vocês, meus queridos leitores. Posso contar nos dedos de uma mão os amigos que se interessaram em saber o país que mais gostei, os que pediram para ver fotos e os que perguntaram da viagem. Imprimi 700 fotos que estão lá, guardadas para quem sabe um dia mostrar para os netos.

Angkor Wat no Camboja

Angkor Wat no Camboja

A indiferença doeu, mas felizmente aprendi a lidar com ela. Uma coisa que aprendi durante meu ano sabático é que devemos manter ao nosso lado só quem nos faz bem. Sabe aquele famoso ditado – “não trate com prioridade quem te trata como opção?”. Pois é, virou meu novo lema de vida.

E como tudo na vida, sempre tem o lado bom. Fiz novos amigos, entrei para a RBBV, uma rede de blogueiros de viagens e consegui passar vários avatares que tinha muito contato no mundo virtual para a categoria de amigos no mundo real. Discordo totalmente de quem diz que é impossível fazer bons amigos via internet. Os melhores que fiz esse ano foi através dela e principalmente por causa desse blog.

Tive bastante tempo para pensar no que quero fazer da minha vida profissional daqui para a frente e cheguei à conclusão que marketing não é a minha praia. E por mais que eu tenha me decepcionado com uma sequência de nãos que recebi do mundo corporativo, tenho que admitir que foi melhor assim, afinal tudo tem seu tempo.

O ano sabático e a volta ao mundo foram as melhores coisas da minha vida. Vivi uma vida sem rotina, sem telefone celular, sem compromissos. Tive a certeza que as barreiras só existem nos nossos conceitos previamente definidos. Em todos os países que visitei, fosse rico ou fosse pobre, eu senti que todas as pessoas esperam a mesma coisa da vida: a felicidade. E eu, assim como elas, também estou buscando isso.

As crianças do Camboja tocaram meu coração.

Aprendi muitas coisas durante o caminho. Só que infelizmente não aprendi a dizer adeus. Se eu tivesse uma máquina do tempo, eu voltaria para vários momentos da viagem só para sentir de novo aquele frio na barriga que eu tinha em cada troca de país. Só para sentir de volta a emoção de chegar em lugares que eu achei que eu nunca chegaria. Só para sentir de volta meu coração disparar, só para sentir de volta a sensação de fazer amizade com um completo estranho que eu tinha conhecido no quarto do hostel.

Não tenho essa máquina do tempo e nem uma máquina de teletransporte, então só posso agradecer por todas as oportunidades que tive na vida e o caminho que a vida me levou em 2011. Queria agradecer a chance de ter conhecido pessoas tão especiais que estiveram comigo nos momentos bons e nos ruins e dizer aqui publicamente que a viagem não teria tido 1/10 da graça sem vocês, afinal a felicidade só é real quando é compartilhada.

Enquanto os outros tinham o sonho de casar, ter filhos, serem executivos de sucesso, meu sonho era rodar o mundo. 11 meses e meio, 20 países visitados e para ser sincera, esse foi só o começo.

Sair da versão mobile