Preciso Viajar

Como eu fui parar na Europa

Eu sempre fui uma pessoa de personalidade forte e também nunca gostei de ser contrariada. Eu fui a primeira neta (menina) do lado do meu pai. Então, eu era o verdadeiro xodó do meu vô. Tanto é que ele comprou uma cadeirinha e me deu de presente. Eu via meu vô poucas vezes por ano, então sempre que eu chegava na casa dele, eu já queria ir para a minha ‘cadeira de princesa’. Lógico que isso causou um pequeno stress com minha irmã e prima que nasceram depois e não ganharam a tal cadeira (como traumatizar seus netos – parte 1).

Sempre rolava confusão por causa dessa cadeira e meu vô tinha que apartar as brigas, mas no fundo, eu ganhava praticamente sempre a disputa, porque as pessoas não tinham coragem de me contrariar. Como vocês podem perceber com a montagem abaixo, eu não era uma criança tão fácil de lidar.

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E foi assim a vida inteira. Eu sempre lutei pelas coisas que eram minhas ou que eu achava que tinham que ser minhas. A história da cadeira foi só para ilustrar o quão determinada chata eu sou desde sempre.

Não sou do tipo que aceita não como resposta. E quando eu coloco uma ideia na cabeça, nada e nem ninguém é capaz de fazer essa ideia desaparecer.

Como eu fui parar na Europa

E foi assim que a Europa entrou na minha vida. Conheci uma menina nas aulas de inglês. Ficamos bem amigas e ela começou a dizer que queria estudar em Londres. Naquela época, eu sabia muito pouco sobre Londres, mas quando comecei a pesquisar, eu decidi que eu tinha que morar lá.

Londres, meu amor, minha vida!

Só que tinham vários problemas – a libra valia uns R$5 e meu inglês não era dos melhores. Mesmo assim, eu não desisti do meu sonho.

Um dia eu estava numa feira vendo cursos em Londres e possibilidade de conseguir uma bolsa de estudos quando dei de cara com um anúncio de estágio remunerado no exterior. Como eu já era formada, peguei os papéis pra dar pra minha irmã e ver se ela se interessava, mas sei que no fim das contas eles aceitavam recém-formados.

E eu decidi que eu iria participar do processo seletivo, que eu iria passar e que eu iria para Londres e ponto. Ninguém iria tirar aquilo de mim.

Eu passei, mas o máximo que consegui foi uma entrevista numa cidade no interior da Inglaterra. Como o salário não era bom e eu não conseguiria me manter só com ele, tive que rejeitar. Foi aí que Dubai quase entrou na minha vida. O ano era 2004, ninguém nem sabia onde ficava Dubai.

Dubai, pelo visto não era para ser…

 

Sempre fui visionária, pena que a vida vive me pregando peças. A empresa acabou escolhendo um homem para essa função, pois envolveria muitas viagens para a Arábia Saudita e eu acabei ficando com a opção que restou, que era uma multinacional em Lisboa.

Na verdade, não é que só restou essa opção. É que quando eu coloco uma ideia na cabeça eu quero pra amanhã e não tava disposta a ficar nem mais um dia no Brasil.

E foi assim que eu finalmente cheguei na Europa. Não era bem o que eu queria, afinal eu precisava melhorar meu inglês, mas parece que um dos meus karmas era essa minha temporada em Lisboa. Foi lá que vivi os melhores e piores momentos da minha vida e foi lá que conheci, os que hoje são, meus melhores amigos.

Lisboa, a cidade que eu aprendi a amar!

Mas, eu até que tava feliz. Tudo era festa. Era a primeira vez que eu iria morar sozinha e ser independente de verdade, até porque meus pais deixaram claro que não me mandariam nem um centavo durante o tempo que eu ficasse lá. Pedi demissão do meu emprego no Brasil, vendi meu carro e fui.

E confesso que cheguei tacando o terror em Lisboa. Eu tinha 22 anos e tudo que eu queria era festa. Só o fato de saber que eu podia fazer o que eu quisesse e não precisava dar explicações para ninguém me animava demais.

Mas a vida, ela é engraçada. Sabe quando dizem que quando você está procurando você não acha e vice-versa? Tudo que eu não estava procurando era um relacionamento sério, mas aconteceu 2 semanas depois que eu pisei em Lisboa.

E, olha que eu sou super racional e essa história de amor à primeira vista não cola comigo. Conheci o Felipe* num encontro de gringos que rolava toda quarta-feira num café perto do primeiro apê que eu morei em Lisboa. Achei gatinho e tal, mas foi só. Eis que no dia seguinte, ele me manda um e-mail dizendo que tinha sido muito legal me conhecer e blá blá blá.

Beleza! Na semana seguinte, lá estava ele no café de volta. Conversamos, ele me deu uma carona até a minha casa e aí foi o começo do primeiro relacionamento sério da minha vida.

Bom, eu tinha 22. Ele tinha 35. Não precisa nem ser muito esperto pra perceber que não daria certo. Mas, você pensa com o cérebro 24 horas por dia, 7 dias por semana. Aí, é só se apaixonar que tudo muda de figura.

Uma pena que a gente tenha se conhecido em 2004. Eu adoraria ter conhecido o Felipe nos dias de hoje, porque creio eu que, hoje, estaríamos com os mesmos objetivos. Naquela época, ele já tinha vivido aquela fase de festa que eu queria viver. Ele queria casar e ter filhos e não preciso nem dizer que se hoje ainda não estou preparada para isso, imagina lá em 2004.

Não foi dos relacionamentos mais fáceis, porque nós dois éramos continuamos sendo muito geniosos. Era faísca para tudo que é lado. Sem contar que além de estarmos vivendo momentos completamente diferentes, ainda tinha um gap muito grande em nossas finanças. Eu estava no começo da minha vida profissional contando os euros (literalmente) para pagar todas minhas contas fixas e ainda poder dar uma viajada pela Europa. E ele estava no auge da carreira, ganhando super bem. Lógico que ele podia pagar tudo para mim, mas eu sempre fui do tipo independente e também não queria que ele pensasse que eu estava com ele por causa de dinheiro (o que definitivamente nunca foi o caso).

Não sou muito de manter contato com ex (até porque meus relacionamentos nunca acabam de forma harmoniosa), mas com ele eu falo até hoje. Ele de fato casou. Teve um casal de filhos. A última vez que nos vimos foi em 2011, quando eu estive em Lisboa durante minha volta ao mundo. Impressionante como o tempo foi generoso com ele. Não envelheceu uma ruga. Segundo ele, eu continuo igual, apenas engordei um pouco. Em minha defesa: na minha humilde opinião, estou muito melhor hoje do que em 2004, mas, realmente, a gravidade não costuma ser a melhor amiga das mulheres e eu engordei. Mesmo assim, me sinto mais bonita.

Ah! E ele que sempre quis morar pra sempre em Lisboa voltou para o Brasil (ele é brasileiro).  E eu que nunca quis ficar para sempre em Lisboa, largaria tudo se eu pudesse voltar para lá (digo, se Portugal não estivesse na crise que está). Por essas e outras que nunca acreditei em destino.

 (O nome verdadeiro dele não é Felipe, mas foi uma homenagem para o Comer, Rezar e Amar).

 

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