Quem chegou aqui no blog agora e ainda não sabe como começou a história da volta ao mundo, vamos lá.
Se você perguntar para qualquer pessoa que largou sua vida confortável para viajar pelo mundo, é provável que escute a mesma resposta que vou escrever aqui. Por mais clichê que possa parecer, eu larguei a vida confortável que eu tinha porque eu queria me encontrar. Eu estava bem perdida quando parti, embora não tivesse motivos para reclamar da minha vida. Eu tinha um bom emprego, trabalhava numa empresa super renomada, viajava numa média de 3 a 4 vezes por ano, tinha bons amigos, mas não estava feliz. Lá no fundo, eu sentia que faltava alguma coisa e eu só iria descobrir o que é que estava faltando se eu ficasse um tempo sozinha. Acho que meu amor pelo mundo era maior que meu amor pelo dinheiro. Rejeitei uma promoção e o cargo que eu sempre sonhei ter (o de gerente) para embarcar na maior aventura da minha vida.
Mas tenho que ser honesta com vocês: ninguém planeja uma viagem de longa duração em duas semanas. Eu já vinha estudando o assunto há bastante tempo e desde que fui pela primeira vez para a Tailândia, já estava com planos de um dia me afastar do mundo corporativo e tirar um ano de férias.
Fui chamada de louca, inconsequente, irracional e mimada por muitas pessoas. Outras pessoas me disseram que eu estava fugindo da vida real.
Essa parte do fugir chega a ser engraçada. As pessoas tendem a julgar os outros por seus próprios medos ou suas próprias atitudes perante à vida. Se eu fugi de alguma coisa, foi da vida morna que eu tinha. Que seja frio ou seja quente, mas por favor, que não seja morno. Como eu odeio coisas mornas! Eu sempre fui e acho que sempre serei muito intensa, daquelas que ama ou odeia, daquelas que vivem intensamente cada dia como se fosse o último, daquelas que jamais fica em cima do muro, doa a quem doer (e como dói). Sou a mais aquariana das aquarianas e sinto a dor e delícia de ser o que sou todos os dias da minha vida.
Eu estava cansada de viver o sonho dos outros. Às vezes a gente nem percebe, mas acaba vivendo a vida que os outros esperam que a gente viva. Imagina se eu tivesse embarcado no sonho de várias amigas, como casar e ter filhos antes dos 30? Hoje eu seria a pessoa mais frustrada do planeta. Ou se eu tivesse embarcado no sonho de ser uma executiva de sucesso? Alcançar os 15 minutos de fama é fácil, difícil é permanecer no topo.
No meu caso, eu até estava vivendo uma vida que eu tinha idealizado para mim mesma. Eu tinha uns planos ridículos de que até X idade, eu tinha que ter o cargo Y e que até X idade eu tinha que casar. Até que um dia que eu realmente tive contato com os chamados viajantes (e não os turistas) e comecei a me perguntar se valia a pena ter tantas metas definidas para minha vida. E não encontrei a resposta para essa pergunta. Também não encontrei a resposta para minha insatisfação pessoal. Tampouco encontrei a resposta para minha irritabilidade com o mundo.
Só que chegou um dia que eu estava a ponto de explodir e pensando bem, de fato fugi. Fugi ao encontro dessa nova vida e de novas experiências. E como muita gente pensou que eu estava fugindo, muita gente também achou que eu não voltaria.
As minhas amigas mais românticas sonhavam com um final amoroso feliz e tinham certeza que eu não voltaria mais para o Brasil, porque em algum momento, em algum lugar do mundo, eu encontraria a minha alma gêmea (esse final eu já contei aqui).
Quando eu comecei a pensar em fazer a minha viagem de volta ao mundo, eu não tinha o dinheiro. O que eu tinha era uma cabeça cheia de dúvidas. “Nunca vou poder largar meu emprego. Nunca vou conseguir arranjar coisa melhor. Nunca vou conseguir dinheiro para viajar por um ano. E como vai ser quando eu voltar? O que as pessoas vão falar de mim? Será que já não estou muito velha para fazer esse tipo de loucura?”
Eu estava próxima dos 30 anos, solteira, trabalhando e me estressando muito e deixando passar os pequenos prazeres da vida. Pensei: se eu não for agora, não vou nunca mais. Se tudo der errado, o máximo que vai acontecer é eu ter que voltar para o Brasil, voltar a morar com minha mãe e arranjar outro emprego, mesmo que o salário seja muito mais baixo do que eu tinha.
Como quase todas as pessoas, eu também tinha uma bucket list, aquela lista que você faz das coisas que você quer fazer antes de morrer. E na minha lista constavam entre outras coisas, uma viagem de volta ao mundo e um ano de férias.
Mas até então era só um sonho e entrava naquela lista de coisas impossíveis que eu talvez eu nunca consiga realizar na minha vida, como ganhar na loteria ou até mesmo casar.
O projeto começou a sair do papel na minha primeira viagem para a Tailândia, em 2010. É impressionante como a Tailândia inspirou vários viajantes a largarem seus empregos e saírem viajando pelo mundo. Durante todo o tempo que planejei minha viagem, encontrei pelo menos 5 blogs de viajantes internacionais que disseram que foi lá na Tailândia que eles decidiram que era hora de largar tudo e ir ao encontro do mundo.
Estava insatisfeita com meu trabalho e com minha vida pessoal no Brasil que não saía do lugar, afinal eu andava só em círculos. Aí cheguei à conclusão que 2011 seria o ano da mudança. E foi mesmo! 2011 foi o melhor ano da minha vida, um ano que quando eu for bem velhinha, vou lembrar com saudades e com lágrimas nos olhos.
E foi assim que começou a maior aventura da minha vida e todas as histórias que vou contar daqui para a frente.