Preciso Viajar

Compre sua passagem

Estava deletando uns emails do hotmail (pior e-mail do mundo) e achei várias mensagens trocadas com uma pessoa que eu sempre achei que seria aquela pessoa que depois de tantas idas e vindas, seria o “the one”. Estava enganada, só para variar.

O ano era 2010 e eu tinha acabado de terminar com o D., o holandês. Ok, a verdade é que ele tinha acabado de terminar comigo. Outra verdade é que eu estava muito, mas muito revoltada.

Parecia que nada estava bom na minha vida em 2010. N-a-d-a! Mesmo eu conseguindo performar um milagre da multiplicação nos meus dias de folga para fazer uma viagem a cada 3 meses (viva o banco de horas!), eu não estava feliz.

Meu emprego ía de mal a pior. Quanto mais eu me esforçava para ser mandada embora, mais eles aumentavam meu salário. Parece bom, mas para quem já não conseguia mais sair da cama para trabalhar, não aguentava mais olhar na cara de quase todos os colegas, a cada novo aumento de salário, a angústia aumentava, porque a insegurança também aumentava. 

“Putz, será que vale a pena chutar o balde? Nunca mais vou conseguir um salário desses” (e de fato não consegui). Mas meu foco era minha vida pessoal, mais especificamente minha vida amorosa. Não aguentava mais receber convites de casamento, escutar minhas amigas falando sobre daminhas, sobre vestidos, sobre docinhos, sobre como era bom ter encontrado sua alma gêmea.

Para começar que não acredito nem em alma gêmea e nem em destino. Acredito que pessoas se conhecem e aprendem a conviver com suas diferenças. E colocam na balança todos os prós e contras de uma relação e concluem que a vida será melhor e mais divertida se eles ficarem juntos do que separados.

O resto é filme. Tenho uma dificuldade enorme em acreditar nessas pessoas que dizem que tudo é lindo, tudo é perfeito e que sequer se lembram de como era a vida delas antes do casamento. Aham…

Mas eu não aguentava mais esses papinhos e fiquei meses reclamando da vida. Os e-mails de 2010 estavam lá para comprovar. Todos diziam mais ou menos isso: “Que saco! Não aguento mais minha vida, meu trabalho, Curitiba. Estou atualizando meu CV. Preciso ir embora”.

E de fato estava atualizando meu CV, mas ainda estava em dúvida se iria tentar arranjar um emprego na Austrália ou em Dubai. Notem que até então o projeto volta ao mundo não existia. Existia um projeto de passar uma temporada de férias na Tailândia, mas era isso.

Por isso que eu falo que o excesso de planejamento pode atrapalhar sua vida. Mas eu tinha tomado minha decisão – embarcaria para a Austrália.

Comprei minha passagem. Tava tudo certo e tudo pago, quando surgiu uma proposta de trabalho interessante e eu cheguei a pensar em cancelar minha viagem. Já estava com a passagem e meu visto de trabalho temporário em mãos e cancelei, sim, cancelei minha passagem.

Fui para Nova York achando que ficaria um ano sem férias. Voltei e não deu certo o emprego e aí quebrei a banca mesmo. Comprei minha passagem da Emirates e transformei o projeto “trabalhar temporariamente na Austrália” no projeto “volta ao mundo e seja o que Deus quiser”.

Deixei tudo para trás. Todas minhas ambições de carreira, todas as possíveis esperanças de relacionamento com aquele cara do início do post, minha família, meus amigos, enfim, deixei tudo sem ter garantia de ter nada na volta. Na verdade, eu não esperava voltar e acho que esse foi o grande erro da minha viagem.

E por mais que eu não acredite em destino, não posso deixar de comentar que algumas situações foram de fato intrigantes, como toda a história com o Scott, ter reencontrado o D. no meio da rua em Londres e recentemente ter reencontrado o cara do início do post (não sei porque isso acontece, mas é fato que não é a pessoa certa, só que não sei porque ele não sai da minha vida). Fatos esses que me levam a ter certeza que destino é coisa de filme, bizarrices são coisas da vida real.

P1010015

Peça demissão, compre sua passagem, pegue um bronze, apaixone-se, nunca retorne.

Eu fiz tudo isso, só que voltei. Meu conselho – siga a frase à risca. Não volte!

As pessoas falam em choque cultural quando você vai morar fora do Brasil. Para mim, o pior choque cultural é o da volta. 9 meses já se passaram e eu ainda não consegui me acostumar. Talvez nunca me acostume.

P.S – tente se apaixonar pela pessoa certa ou pelo menos por uma que também goste de você.

P.S 2 – a frase não é minha, mas não sei quem é o autor. Seja lá quem for, parabéns!

Sair da versão mobile