Durante minhas viagens, sempre carrego comigo um moleskine e vou anotando minhas impressões sobre os lugares, afinal o que realmente fica das nossas viagens são nossas recordações. Comecei com minhas impressões de Berlim e hoje vou falar do vulcão Haleakala, no Hawaii.
Logo depois que voltei do meu ano sabático, todo mundo me perguntava se iria parar de viajar, afinal tinha ficado um ano viajando pelo mundo. Muitos achavam que tive tempo suficiente para conhecer “todos os lugares do mundo”. Quem me dera! Me arrependo de não ter ficado dois anos na estrada, aí sim teria tido a chance de riscar pelo menos metade da minha lista de lugares que quero conhecer. O Hawaii era um deles. Por problemas de logística/tempo/dinheiro, ele não entrou na volta ao mundo.
Quando voltei, em 2012, achei que levaria um tempo para fazer viagens internacionais novamente. Eis que para minha surpresa, já em 2012, fui para o Peru e Bolívia. Também não tinha grandes expectativas para 2013 e sabia que não estava em condições de “torrar” muito dinheiro em viagens, quando surgiu uma promoção imperdível para o Hawaii. Era pegar ou largar. Peguei.
R$1300 reais com as taxas. Como ainda estava desempregada, comprei a passagem para dali duas semanas. Quem faz esse tipo de loucura? Eu. Obviamente não tive tempo de pesquisar muita coisa, mas consegui incluir belas praias e um vulcão no roteiro.
Como todo mundo, tinha grandes expectativas em relação às praias do Hawaii. Mas o que realmente me impressionou foi o Vulcão Haleakala. Já fiz muitas coisas incríveis e de superação pessoal em viagens. Para citar algumas delas: Muralha da China, Machu Picchu, Salar de Uyuni, Franz Josef (geleira na Nova Zelândia), mas foi o Haleakala com seus 19 km de trilha (sendo 12 deles praticamente só de subida) o mais desafiador até hoje.
Antes de iniciar a trilha, perguntei qual era o grau de dificuldade. Me informaram que não era pesada e qualquer “iniciante” poderia fazê-la. Ok, estou longe de ser atleta e já não estava mais na categoria sedentária total, mas a trilha está longe de ser para iniciantes. Sabe o que é pior? Os primeiros 6 km são só de descida. Você acha tudo lindo (e de fato é). Entrar no Haleakala é quase como entrar num outro planeta. As plantas são estranhas, a paisagem tem cinquenta tons de marrom, a perspectiva é diferente do que estamos acostumados a ver.
No sétimo quilômetro, começam as subidas. São intermináveis. Os pés doem, a cabeça também (talvez fosse o sol). Ufa! Enfim paramos para almoçar. Tirei meu sanduíche do Subway da mochila e comi gelado mesmo. O gosto? Delicioso. Costumo dizer que o melhor tempero é a fome. Olhei minha garrafa de água e ela estava pela metade. Decidi economizá-la.
Voltamos para a trilha. Nos km finais, já não sentia mais minhas pernas. Minha vontade era deitar no chão e esperar pelo resgate. No filme sempre dá certo, não é mesmo? Foco! Falta pouco. O pouco ainda levou umas duas horas. Quando vi aquela luz no fim do túnel (no caso – o estacionamento), tive vontade de gritar: “eu consegui, eu consegui”. Faltavam forças. Cheguei no estacionamento e deitei no chão. Não fui a única. Descansei um pouco até conseguir levantar e ir atrás de mais água.
Parecia difícil de acreditar, mas eu tinha conseguido. Venci os 19 km do Haleakala.
Entramos na van. Subimos para o topo do vulcão, felizmente de carro. O motorista nos alertou que era frio e devíamos colocar um casaco. Eu ainda estava suada da “maratona”, mas levei o casaco. Não deu cinco minutos e aquele vento gelado começou a me incomodar. Coloquei o casaco, cachecol e luvas. Olhei para o lado e a paisagem era surreal: nós estávamos literalmente por cima das nuvens. Já tinha ficado em cima das nuvens várias vezes, mas em todas eu estava dentro de um avião.
Minha vontade era chorar de emoção. Era tudo muito lindo. E o sol começou a descer. O céu foi ficando laranja e branco. Uma das cenas mais lindas que vi até hoje. Me senti meio dona do mundo, afinal estava praticamente no topo do mundo, ou pelo menos no topo do vulcão Haleakala.