Depois de eventos terroristas como o da última sexta-feira 13 em Paris, fica difícil manter a fé na humanidade. Por isso, pedi para alguns blogueiros me mandarem histórias de como foram ajudados por completos estranhos em suas viagens. A ideia era mostrar que ser bom não tem nada a ver com nacionalidade, religião, poder aquisitivo, etc. Existem pessoas boas em todos os lugares do mundo. E vou mais além: existem mais pessoas boas do que más no mundo. Prova disso é que em meia-hora recebi dezenas de histórias, envolvendo as mais diversas nacionalidades. Hoje publico a primeira parte delas. Espero que alegrem o seu dia. Alegraram o meu.
Histórias para restaurar a fé na humanidade
Mirella Matthiesen do blog Mikix e também uma das autoras do Viajoteca
O japonês e o 7-Eleven
Minha experiência foi no Japão, em Hiroshima, para ser mais precisa. Depois de um longo dia passeando pela cidade, percebemos que nosso dinheiro tinha acabado e resolvemos procurar um caixa eletrônico, para não correr o risco de ir a um restaurante sem dinheiro vivo no bolso. Já tínhamos pesquisado que, na maioria das lojas 7-Eleven, poderíamos usar nosso cartão de débito na máquina “seven bank” e prontinho (mais detalhes e foto aqui: http://www.sevenbank.co.jp/intlcard/index2.html ).
Até aqui tudo parece muito fácil, mas há 3 anos a tecnologia do Google Maps ainda não era tão perfeita como nos dias atuais e achar um endereço no Japão definitivamente não é uma das tarefas mais fáceis, pois nada, absolutamente nada faz sentido. E foi quando apareceu um moço na nossa frente e eu perguntei onde poderia encontrar um 7-Eleven mais próximo. Claro que num mundo perfeito, eu falaria meu belo inglês e ele entenderia tudo, mas não foi bem assim. Ele entendeu 7-Eleven e entendeu que eu queria sacar dinheiro, pois mostrei meu cartão do banco. Ele pensou, tentou se expressar e eu e meu marido ali, olhando querendo entender. De repente, ele pega na minha mão e diz “come” (“vamos” em português). E nos levou para a loja 7-Eleven, mais ou menos 5 quarteirões de onde estávamos.
Já em frente a loja e depois de muito “Arigatô” de agradecimento, ele vira e segue pelo mesmo caminho que nos trouxe. Resumindo: ele saiu da sua rota, para nos mostrar o caminho e estava todo sorridente. Achei incrível! PS: E se quiser mais uma dessa nossa viagem ao Japão, meu marido esqueceu o iPhone dele no trem bala e adivinha o que aconteceu? Ele retornou para nossas mãos algumas horas depois!
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Gabriela Moniz do Projeto 101 Países
Os iranianos do metrô
Eu estava com meu esposo em alguma estação de metrô em Teerã tentando entender qual era a estação que a gente deveria saltar para ir até o terminal rodoviário, pois de lá seguiríamos viagem para outra cidade. Engraçado é que no metrô da maior cidade do Irã não há mapas impressos e nem aqueles enormes grudados na parede que mostram todas as linhas.
Então tivemos que perguntar a várias pessoas qual linha pegar, onde parar, etc… e mesmo assim não estava nada fácil! Assim que entramos no vagão lotado (detalhe que estávamos com duas malas), alguns rapazes abriram espaço pra gente. Lá em Teerã, nos horários de pico, não é raro você ter que esperar até o sexto metrô chegar para conseguir entrar. Há vagões preferenciais para mulheres, mas eu preferi ir ao lado do meu esposo (as mulheres podem ir nos vagões masculinos). Fomos conversando um pouco e é claro que várias pessoas nos olhavam com aquele ar de curiosidade.
Assim que chegou a nossa estação, aqueles rapazes que fizeram espaço no vagão saltaram também e perguntaram de onde éramos. Não preciso nem falar que abriram o maior sorriso quando dissemos a palavra: Brasil!
Eles foram andando na frente e a gente agora estava procurando uma forma de atravessar a rua e chegar ao terminal de ônibus. Eles perceberam que estávamos um pouco perdidos e, apesar de estarem indo para outro lugar, mudaram a rota e foram andando com a gente até o terminal (um deles carregou a minha mala!). Chegando lá, nos ajudaram a comprar as passagens de ônibus, pois não entendemos nada de persa (só os números) e falar inglês no Irã não é das tarefas mais fáceis. Teríamos que esperar ainda 2 horas e os rapazes disseram que ficariam com a gente até a hora de embarcar.
Perguntei a eles onde eu poderia comprar crédito para o celular, pois precisava de internet para usar o whatsapp e era meio urgente.
Como se não bastasse a ajuda em nos levar até o local correto e em comprar as passagens, eles pediram para mexer no celular de meu esposo, compraram crédito e não nos deixaram pagar!
Passaram aquele tempo todo conversando com a gente, perguntaram várias coisas sobre o nosso país e ainda fizeram questão de nos deixar na porta do ônibus que pegaríamos para outra cidade no país.
Não sei se ainda veremos, mas o whatsapp fez com que mantivéssemos o contato até hoje!
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Renata Inforzato do Direto de Paris
O estrago do Mistral e os dois presentes
Quando fui pra Arles, na França, era verão. Mas mesmo assim havia o Mistral, o vento bem forte da Provence. Então estava andando sem óculos escuros e entrou areia no meu olho. Eu tenho mais de 4 graus de miopia e uso lente. Sentei num banco pra tirar a lente, tirar a areia do meu olho e pingar colírio. Quando tirei a lente do.olho direito, que tinha a areia, o Mistral levou a lente.
Comecei a procurar desesperada e nada. Voltei pro hostel com lente só no olho esquerdo, mais de quatro graus entre um olho e outro. Não enxergava nada e já estava com náusea e dor de cabeça. E não tinha óculos.
Chegando no hostel, Viviane, a tiazinha do café da manhã, me deu oi como sempre. Ela era muito boazinha. Quando contei o que aconteceu, ela largou o que estava fazendo e pegou o carro. Me levou até uma ótica.
Chegando lá, contei o acidente pra vendedora. Vi que ela queria rir. Perguntou se eu tinha a receita. Respondi que estava no meu email. Aí ela me deixou usar a internet. Mostrei a receita pra ela, ela anotou e entrou numa salinha. Quando voltou, tinha um par de lentes. Mandou eu tirar a esquerda, que ainda tinha, e colocar as duas… Coloquei. Foi um mundo novo que via. As lentes que ela trouxe eram descartáveis de um mês como as minhas. Perguntei quanto deveria pagar e a moça disse: nada.
Voltei de carro com Viviane, que ficou o tempo todo comigo, e quando chegamos no hostel ela ainda me deu um pote de geleia de figo. Duas estranhas me ajudaram e com dois presentes.
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Luiza Ferrari do London, sô!
Mesmo quando tudo parece dar errado, vem alguém e prova que ainda dá para ter esperança
Eu e meu marido fomos passar uma semana na praia em Sousse, na Tunísia. Eu, que havia visto várias fotos bonitas da “Santorini da Tunísia” – uma cidade chamada Sidi Bou Said -, quis porque quis ir visitá-la. O problema era: não existia mais vaga na excursão do hotel e em nenhuma outra agência próxima e nós teríamos que pegar um trem até Tunis e depois um táxi para chegar até lá. Eu insisti e, mesmo com medo, nós fomos. Pegamos o trem sem maiores problemas…
Ao chegar na estação em Tunis, um homem bem vestido e simpático nos ofereceu ajuda. Eu falei que não precisava, mas meu marido aceitou. O homem começou a dizer que era guia turístico e que iria nos ajudar a chegar até Sidi Bou Said. Nós insistimos que só precisávamos saber onde pegar o táxi. Ele disse que ia nos levar até o ponto, mas começou a ir para umas ruazinhas vazias em torno da estação. Eu, já apavorada, comecei a falar para a gente voltar, mas nesse ponto nós já nem sabíamos mais onde ficava a estação!
Com medo, continuamos sendo simpáticos até ele nos levar para uma loja de um parente… Lá, fomos obrigados a comprar, comprar e comprar (um assalto disfarçado). Pelo medo, deixamos nosso dinheiro quase inteiro na loja. O homem não quis nos acompanhar de volta até a estação e nós resolvemos pegar um táxi para voltar. Ao sair do táxi, percebemos que todo o resto do nosso dinheiro havia caído no banco do carro, ou seja: não tínhamos um centavo para comprar as passagens de volta!!
Eu comecei a chorar desesperada na estação, só queria ir embora daquele lugar e não conseguiria. Até que uma moça se ajoelhou no chão comigo, me perguntou o que tinha acontecido e por pura dó do meu desespero, foi com meu marido até o caixa comprar nossas passagens e uma garrafa de água para mim. Ela foi no mesmo trem que nós e antes de a gente sair, fez questão de nos dar mais dinheiro para que a gente conseguisse chegar no hotel. Se não fosse por ela, talvez eu ainda estivesse chorando no chão da estação em Tunis.
Veja todas as dicas da Tunísia no London, sô!
Jackeline Mota do Viaje Sim
Um roteiro furado e um anjo no caminho
Arequipa, no Peru, é uma cidade enorme e eu tinha lido sobre golpes em táxis, assaltos na rua. Nossa ideia era seguir direto para Nazca, mas devido aos horários dos ônibus não foi possível. Fiquei conversando com meu marido na rodoviária tentando decidir o que fazer quando uma senhora se aproximou.
Ela nos disse que no segundo andar funcionava um escritório de turismo da cidade, onde poderíamos pegar informações. Lá fomos nós e a senhora também. Ela trabalhava lá. Achamos esquisito e ligamos o modo turista em alerta. Ela nos mostrou um mapa da cidade, disse que poderia nos arrumar um hostel com bom preço. Ela falava e íamos concordando e trocando olhares incrédulos. Ela então nos reservou um hostel com um preço maravilhoso. Pensei, “ok, em algum momento teremos que pagar uma comissão, mas está ótimo, íamos ficar abandonados aqui na rodoviária mesmo”. Mas não, ela não pediu nada.
Fiz questão de perguntar sobre os táxis, pois tinha lido que era perigoso e tinham muitos piratas. Ela confirmou e falou: eu levo vocês. Meu olhar e do meu marido se cruzaram e tive certeza que ele pensava o mesmo que eu: pronto, ela vai nos sequestrar. Várias possibilidades de golpes passaram pela nossa cabeça. Era tudo bom demais para acreditar. Mesmo assim, acreditamos e fomos com ela.
Chegamos no hostel e fizemos o check in, acompanhados da nossa anfitriã. Vi na parede o preço original – o dobro do que estávamos pagando – e ela se despediu. Assim, sem pedir nada, dando conselhos sobre o que fazer no dia seguinte, ela foi embora. Aparentemente um anjo parece ter se importado com dois mochileiros com roteiro furado. É, acontece.
Leia a história completa em Mochilão Arequipa – Blog Viaje Sim
Eduardo Gomes do Dudu Afora
Ano passado, em março, fui para Europa com conexão em Nova York. Como tinha 18 horas de conexão, resolvi sair do aeroporto JFK e me aventurar para chegar em Manhattan de metrô. Consegui chegar facilmente em Manhattan, mas quem disse que eu consegui memorizar o caminho para voltar? Acho que fiquei uma hora tentando perguntar na estação como eu fazia para voltar para o JFK. E nada! Ninguém me ajudava. Sentei e tentei ficar calmo. Olhei para o lado e vi um casal de brasileiros conversando. Fui lá e pedi ajuda. Eles se chamavam Renata e Rômulo e têm dois filhos que moram em Boston. Ela me ensinou tudinho no mapa do app metrô NY. Fiquei mais tranquilo. Sabia que não perderia meu voo para a Europa. Eles me disseram que estavam mostrando a cidade para outro casal de Fortaleza e perguntaram se eu queria ir junto. O metrô chegou. Entrei e fui com eles. O passeio foi ótimo. E quando foi chegando o horário do meu voo, abri o app que ela tinha me mostrado, peguei as instruções e segui para o JFK. Tem muita gente boa no mundo sim.
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E, para finalizar, conto uma das minhas histórias. Felizmente já fui ajudada várias vezes por estranhos não só durante minhas viagens, como aqui no Brasil.
Meu anjo da guarda boliviano
Quando eu penso em perrengue, lembro da minha viagem para o Salar de Uyuni, na Bolívia. Não bastasse quase tudo ter dado errado durante o tour pelo deserto de sal, no dia que estávamos retornando para Uyuni (e que supostamente eu deveria partir para La Paz), os mineiros bolivianos resolveram bloquear todas as estradas do país. Todas! Resumindo: estava presa em Uyuni.
Quando finalmente me dei conta que não tinha muito o que fazer a não ser procurar um lugar para dormir, fui correndo procurar um hotel. Negociei rapidamente o preço com o dono, larguei minha mochila no quarto e fui procurar uma lan house. Precisava desesperadamente mudar meu voo para o Brasil ou arranjar um voo de Uyuni para La Paz.
Fiquei um tempão na lan house e não consegui resolver meu problema. Saí chorando e sentei no meio-fio. Tinha pouquíssimo dinheiro em espécie e meu cartão não estava passando nos caixas eletrônicos da Bolívia. Fiquei pensando que se a situação das estradas se prolongasse eu não teria dinheiro nem para comer. Aí lembrei que para piorar não sabia o endereço do hotel. Chorei mais um pouco.
Um senhor se aproximou e perguntou o que estava acontecendo, se eu estava machucada ou tinha sido assaltada. Ele sentou do meu lado e procurou me acalmar. Contei para ele que iria perder meu voo para o Brasil se não chegasse em La Paz a tempo e que não sabia o endereço do meu hotel, só o nome. Ele disse que não sabia onde era, mas me ajudaria a encontrar. Ficamos rodando por mais ou menos uma hora até encontrar o hotel. Quando encontramos o hotel, me acalmei. Aí ele perguntou se eu estava com fome e me levou para jantar. Pagou tudo e ainda fez questão de deixar um cartão com o número do seu telefone e disse que se eu precisasse de qualquer coisa (até carona para La Paz) era só ligar.
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