Preciso Viajar

O episódio do banheiro e da alfândega no Japão

Era chegada a hora de ir para o Japão e eu já sabia que essa seria uma das partes mais caras da minha viagem. Então, para já entrar no ritmo da economia, resolvi ir junto com meu amigo Igor para o aeroporto de Bangkok. Era de lá que pegaríamos nosso voo para Tóquio.

O voo dele era 1 da manhã e o meu só às 6 da manhã. Mas como valia tudo para economizar, eu decidi que dormiria no aeroporto. Já fiz isso várias vezes, principalmente nos aeroportos de Londres e pasmem, tem até um site para você pesquisar se o aeroporto que você quer dormir é bom, se tem cadeiras confortáveis, lanchonetes boas e por aí vai. Quem se interessar em pesquisar, esse é o site http://www.sleepinginairports.net/.

Nosso plano era perfeito. Como o voo do Igor fazia escala na China e o meu era direto, iríamos chegar em Tóquio com apenas 15 minutos de diferença. Então, marcamos de nos encontrar logo após a imigração, na esteira de bagagem. É o tipo de plano que seria perfeito num aeroporto minúsculo como o Afonso Pena (Curitiba), mas que definitivamente não era perfeito para Tóquio. E como Murphy sempre tem que dar o ar da graça, obviamente os nossos voos não chegaram no mesmo terminal. E para ajudar, meu voo ainda chegou antes do previsto e o dele com atraso.

Como eu cheguei antes, me enrolei bastante para passar na imigração. Esperei outro voo chegar e fui lá para o fim da fila para matar tempo. Outra coisa que faria diferença num aeroporto péssimo e desorganizado como Guarulhos, mas no aeroporto de Tóquio não fez muita diferença, porque para entrar no Japão você já precisa ter um visto ou ter um passaporte dos países isentos de visto (meu caso com o passaporte italiano).

Não demorei muito tempo para ter meu passaporte carimbado e saí para pegar minha mochila. Mas antes de pegar a mochila, resolvi ir ao banheiro. E por lá fiquei por pelo menos meia hora. Não, eu não estava passando mal ou tampouco tive uma dor de barriga, mas eu simplesmente não sabia dar a descarga. O vaso sanitário japonês tem uma espécie de controle remoto do lado com vários botões para apertar.

O tal controle remoto

Olhava todos e não conseguia identificar qual poderia ser a descarga. Até que resolvi apertar um botão qualquer. Escutei o barulho da descarga, mas não vinha nada de água. Então, fui apertando todos os botões e começou a sair jato de água, música e tudo aquilo que você possa imaginar, menos a descarga. Bom, já tinha desistido de encontrá-la quando abaixei a tampa e vi que ela estava lá, no mesmo lugar de sempre. Me senti uma idiota, mas era só o começo.

Esse não era o do aeroporto e a descarga estava bem visível, mas lá no aeroporto não estava.

Fui procurar minha mochila e ela não estava na esteira. Aí fui no balcão da cia aérea e lá estava a mochila, a última que tinha sobrado do voo (gente, acho que fiquei tempo demais naquele banheiro).

Não tinha mais como matar meu tempo, então fui obrigada a passar pela alfândega sozinha. Me pararam e pediram para ver minha mochila e passaporte. Eu estava usando meu passaporte italiano em todos os lugares, mas na Tailândia eu resolvi usar o brasileiro, porque o italiano estava ficando sem páginas. E o fiscal da alfândega procurava meu carimbo da Tailândia no passaporte e não achava. Aí ele viu os carimbos de todos os lugares que tinha passado nos últimos meses e começou a me questionar. Não queria entrar no mérito das duas cidadanias, porque o inglês dele era precário e tudo que eu não precisava era ir para a salinha ser interrogada. Aí ele pediu para abrir minha mochila.

Quando eu abri a mochila, a primeira coisa que ele viu foi a Adrenaline. Ele pegou a Adrenaline e começou a dar risada. Não entendo japonês, mas desconfio que ele falava que ela era bonitinha. Chamou os colegas das outras filas e começou a mostrar a ovelha para todo mundo. Detalhe que esse cara tinha pelo menos uns 40 anos. É impressionante a fixação que japonês tem com pelúcia.

A Adrenaline

Ele nem quis mexer muito na minha mochila, pois ficou realmente encantado com a Adrenaline. Até achei que seríamos separadas ali no aeroporto, mas ele me devolveu a ovelha e ainda me ajudou a fechar a mochila.

Nessa altura do campeonato eu já sabia que meu amigo não desceria no mesmo terminal que eu e fui até o terminal dele. O bom é que o painel dos voos estava escrito só em japonês e foi super fácil para eu conseguir identificar o voo dele, visto que domino bastante o japonês (só que não).

Esperei mais de uma hora e quando vi que ele não iria sair tão cedo, decidi pegar o trem sozinha e ir para o hostel. Desci para pegar o trem e já tinha tudo anotado e até um mapa (inclusive com fotos para não me perder). Gente, eu não sei ler mapas. Não dá, já tentei de tudo e não entra na minha cabeça. Sou lost mesmo!

Mas, até que consegui pegar o trem no sentido certo, desci na estação certa, estava tudo certo, até obviamente eu sair na rua e ter que pegar à direita ou esquerda, coisa que aliás também tenho problema para diferenciar. E aí parei no meio da rua e tentava identificar as fotos das instruções de como chegar no hostel com os estabelecimentos da rua e parecia tudo igual. Era tudo escrito com aquelas letrinhas japonesas.

Entrei em certo desespero e passou uma espécie de mendigo na rua e falou algo como – eu sei falar inglês. Aí perguntei se ele sabia onde era o hostel e percebi que ele não falava inglês. Mas o cara pegou o mapa e foi apontando para eu ir seguindo ele. Ele colocou minha mochila menor na bicicleta dele e foi me guiando até o hostel que por sinal, eu jamais teria encontrado sozinha.

Ele me deixou na porta do hostel e eu agradeci com a única palavra que sabia falar em japonês: arigatô. Tentei dar um dinheiro pela ajuda, mas ele recusou.

E foi já no primeiro dia, mesmo com todas essas confusões que eu passei a amar o Japão.

Liçoes que aprendi com esse episódio

1) Se tiver mesmo que dormir no aeroporto, leve um casaco ou cobertor porque eles não desligam o ar-condicionado.

2) Nunca combine com ninguém um encontro na esteira de bagagem, principalmente quando o aeroporto for enorme como o de Tóquio.

3) O vaso sanitário no Japão tem controle remoto e assento aquecido, mas a descarga fica no mesmo lugar que os vasos sanitários comuns.

4) Não tenha vergonha de pedir ajuda no Japão, mesmo que seja para um suposto mendigo.

5) É essencial aprender palavras básicas do país que você pretende conhecer, nem que seja apenas um “obrigado”.

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