Conheci o John no quarto do hostel em que estávamos hospedados em Beijing (Peking International Youth House). Ficamos amigos, trocamos umas ideias sobre roteiros e decidimos viajar juntos durante 2 semanas. O bom de viajar sozinho (a) é que você fica íntimo das pessoas em tão pouco tempo e desenvolve um grau de amizade que muitas vezes demora anos para desenvolver no lugar onde vive.
Eu e o John resolvemos pegar um trem noturno de Pequim para Shanghai. Parecia ser uma ótima opção. Seriam 15 horas no total, mas nossa ideia era assistir um filme no laptop, comer alguma coisa e dormir até o dia seguinte.
Tudo na China exige uma dose extra de paciência porque a comunicação é difícil. Quase ninguém fala inglês, então, você sempre tem que sair do hotel com um papel com o nome dos lugares que você precisa ir em mandarim e por aí vai. E a gente até que estava se virando bem. Conseguimos encontrar nossa plataforma do trem, depois nosso vagão e tudo parecia estar mais tranquilo do que tinham nos falado.
Quando fomos comprar os bilhetes, nos alertaram que as melhores camas eram as de baixo e do meio, então compramos as duas. Entramos na nossa cabine (que por sinal era minúscula) e compartilhada com mais 4 pessoas e a nossa cama de baixo já estava ocupada por um chinês.
Na verdade, é costume que as pessoas da cabine fiquem sentadas nas camas de baixo por um tempo, porque quem comprou a cama de cima realmente não tem onde sentar. Desnecessário falar que a comunicação com os chineses sentados na cama era inexistente. Ficamos lá, sentados, dividindo nosso espaço com os chineses e devido à barulheira dos chineses e seu jeito peculiar de chupar comer miojo, nossa ideia de assistir um filme também foi por água abaixo.
Vocês não tem noção de como eu fico estressada quando tem alguém por perto comendo de boca aberta ou fazendo barulho para comer, então subi para minha cama, liguei o ipod e tentei dormir.
Não consegui dormir, então resolvi dar uma voltinha no trem, ir ao banheiro, etc. Voltinha com direito à visão do inferno, porque parecia que todo mundo daquele trem estava chupando comendo miojo. E o banheiro era só um buraco no chão. Ainda tenho traumas…
Voltei para a cabine e pelo menos o John já tinha conseguido se livrar dos chineses que estavam na cama dele. Ele perguntou se eu queria trocar de cama com ele, mas como não sou burra, achei melhor não.
Dormi super mal porque o vagão estava muito quente, até que acordei com o barulho de um chinês mascando chicletes com a mesma sutileza que uma vaca mascaria, caso pudesse. E para ajudar, ele estava me encarando (detalhe que a altura da minha cama era praticamente a mesma altura do chinês, então ele estava literalmente do meu lado). Olhei para a cama do John e ele não estava lá. Aí não tive dúvidas. Desci, deitei na cama dele na esperança que sei lá, o chinês pensasse que éramos um casal e me deixasse dormir mais um pouco e sabe o que ele fez?
Ele sentou na cama do John que já tinha virado a minha. Olhei no relógio e eram 06:30 hs e aquele trem só chegaria em Shanghai por volta das 10:00 hs. Eu odeio acordar cedo, ainda mais quando não preciso, mas não teve jeito. Nem eu e nem o John conseguimos mais dormir e nem recuperar a cama de baixo. E como a cama era pequena, não daria para nós dois tentarmos ficar na do meio, então tivemos que ficar longas 3 horas e meia “socializando” com o chinês. Ele não entendia uma palavra do que a gente falava e nós não entendíamos uma palavra do que ele falava, mas para entrar na onda, resolvemos esquentar o nosso próprio miojo. Têm várias máquinas de água quente no trem e recomendo fortemente que você compre um cup noodles antes de embarcar. Vai por mim! É a opção menos pior e ainda garante uma socialização com os chinas (mesmo que não solicitada).
P.S – os chineses têm essa mania de encarar, mas não é de um jeito nojento ou numa linha sexual. A China recebe muitos turistas, mas a maioria deles são asiáticos, então os chineses estão sempre observando os ocidentais. Depois que você se acostuma, chega até a ser engraçado.