Preciso Viajar

Phnom Penh, a capital do Camboja

Existem cidades que são tão gostosas, que você não tem vontade de ir embora. No meu caso, essa cidade chamava-se Siem Reap. Mas era hora de seguir em frente a abandonar o encantador cenário dos templos de Angkor Wat e entrar no cenário do passado trágico do Camboja.

Peguei um ônibus noturno de Siem Reap para Phnom Penh. Foram seis horas de viagem. Sempre que podia, pegava ônibus noturno na minha viagem de volta ao mundo, por um motivo muito simples – economia de hospedagem. Comprei um ticket para embarcar num sleeper bus e imaginava que seria mais ou menos como um ônibus leito no Brasil. Mas nada pode ser muito simples na Ásia. O ônibus de fato tinha camas, isso mesmo camas. Para ser mais precisa, o ônibus tinha beliches. E eu fui contemplada com uma cama de casal no andar inferior do beliche, dividida apenas com um pequeno encosto e que eu tive que dividir com um completo estranho. Além disso, ela era em frente ao banheiro. Não preciso nem contar o final da história, mas foi uma das piores viagens de ônibus da minha vida. Era melhor ter pago uma diária num hostel, que custava U$7,00.

Cheguei em Phnom Penh e fui direto ao hospital, porque tinha sido picada por uma aranha lá em Siem Reap. Aproveitei e já verifiquei as várias picadas que eu tinha na perna de mosquitos, afinal – vai que era malária? Não era, então tudo certo para seguir em frente, visitar a cidade e providenciar meu visto para o Vietnã. 


Eu amei Phnom Penh. Ela tem um pouco da Europa e muito da Ásia (vi até um elefante atravessando a rua).

Esse templo é muito parecido com o Grand Palace na Tailândia
O elefante atravessando a rua
Meu objetivo era fazer o visto do Vietnã e visitar os killing fields (campos de extermínio). Consegui fazer o visto com uma agência e saiu mais barato do que fazer direto com a embaixada e também mais rápido. Ficou pronto em um dia e custou U$35 o visto para 15 dias. O valor para 30 dias era de U$37. O nome da agência é Easy Net Travel e fica na rua principal em frente ao rio. Gostei bastante do atendimento.

Se você não quer ler nada triste, pare de ler o post agora. A visita ao museu S-21 e aos Killing Fields foi simplesmente chocante. Triste e chocante. Já tinha sentido algo parecido nos campos do holocausto, mas no Camboja foi pior. Até agora não consigo entender como um governante matou milhões de cidadãos do seu próprio país.

Não tenho muitas fotos, muito menos fotos sorrindo na frente dos “pontos turísticos“, porque era tão triste que não dá nem vontade de lembrar. Chorei várias vezes. O museu S-21 é o mais chocante porque o lugar era uma escola que depois foi transformada em prisão. Só quatro prisioneiros saíram vivos de lá. Todos escaparam graças a seus talentos artísticos. Eles eram os pintores e fotógrafos dos ditadores. As crueldades foram fotografadas e os instrumentos de tortura, assim como várias caveiras ainda estão lá. Cruel demais! Não foi bem um extermínio em massa como o de judeus, em que todos iam juntos para a câmara de gás. No Camboja, eles eram torturados por meses até morrerem ou pela violência ou pela fome.



A escola que depois foi transformada em presídio. O balanço foi substituído e virou instrumento de tortura.
Algumas fotos das vítimas. Muitos sorriam, obviamente sem saber o que viria a acontecer.
Fiquei olhando uns 10 minutos para essa foto. A menina parecia ter uns 10 anos.
Os Killing Fields ficam um pouco afastados do centro de Phnom Pehn e você precisa necessariamente ir de tuk-tuk. O lugar em si é bonito, mas a partir do momento que você começa a escutar o áudio só dá vontade de chorar. Atrocidades infinitas. No ponto 14 do áudio, você para na frente de uma árvore e não entende nada. Aí vem a explicação – “Essa árvore era usada para arremessar os bebês. Não valia a pena desperdiçar dinheiro com munição. Eles eram atirados na frente das mães para morrer”. Chorei horrores!

A tal árvore




Jardim onde estão centenas de corpos enterrados




É muito triste, mas era uma das coisas que eu queria muito conhecer no Camboja. É excelente fazer um passeio desses para darmos valor a nossa vida e percebermos que antes de reclamar de qualquer coisa, devemos lembrar que existem pessoas que sofreram barbaridades como essa há apenas 32 anos. Muitos sobreviveram ao período de terror e estão lá, com um sorriso no rosto tentando recomeçar uma nova vida.
Amei o Camboja e agora ele ocupa a posição de meu país preferido na Ásia. A Tailândia perdeu seu posto.

Dicas, preços e informações

– Ingresso para o S-21 custa U$2 e para o Killing Fields U$5 com o áudio. Sugiro que você faça o tour com o áudio, senão não vai entender nada.
– Paguei U$15 no tuk tuk pelo dia inteiro para me levar nos dois lugares e depois no Russian Market.

– O Russian Market é um mercado same same da Ásia em que você encontra todos os souvenir possíveis, mas também mistura coisas falsificadas e reais. A maioria das marcas americanas tem fábricas no Camboja, tais como a Gap e a Tommy Hilfiger. Tenho certeza que muita coisa daquele mercado é carga roubada. O que vale a pena lá são as bolsas e carteiras de ceda. Lindas e super baratas. Barganhei muito e comprei uma bolsa e uma carteira por U$5. 


– Fiquei no Mad Monkey Hostel. Ele fica um pouco afastado da área do rio, que tem a maior concentração de hotéis e guesthouses, mas eu gostei muito. Uma cama custa U$7 a noite, sem café-da-manhã. O restaurante do hostel é uma delícia, porém é caro para os padrões do Camboja. O staff é super atencioso, os donos são ingleses (jovens, lindos, porém comprometidos) e uma das meninas que trabalha lá, ocupa definitivamente o posto de pessoa mais simpática e feliz que conheci até hoje. 


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