Há quem reclame do Laos e diga que o país não merece uma visita. Discordo. O Laos emociona. É um país pobre, miserável e bastante religioso. O que mais se vê nas ruas são os monges ou aprendizes de monges (mini-monges) como eu os apelidei.
O budismo me atrai muito, por ser uma religião leve, de desapego e principalmente uma religião de humildade, coisa que anda um pouco bastante em falta por aí. E também acredito na lei de causa e efeito (o que você faz, um dia paga), acredito em reencarnação e lógico, acredito em karma.
No Laos você terá encontros frequentes com esses monges, porque quase todos os meninos do país são mandados para os monastérios (não sei se é bem esse o nome) por pelo menos alguns meses da infância e/ou adolescência. Alguns ficam apenas meses, outros ficam anos e realmente se tornam monges.
Esse ritual de “entregar” o filho para o budismo e abdicar da presença dele em casa e na renda familiar (já que a maioria deles ajuda no sustento da casa) é realmente um sacrifício, mas as famílias fazem na esperança de encontrar uma futura recompensa de Buda. Não sei se estou usando as palavras certas para descrever a situação, mas acho que deu para entender o contexto.
Os meninos raspam o cabelo e passam a viver com aquela roupa laranja típica dos monges. Eles moram nos templos e estudam. Mas eles têm que cumprir uma rotina severa diariamente. Acordam cedo, rezam, meditam e aí vão para as ruas recolher os alimentos do dia.
Esse ritual chamado Morning Alms ou Ronda das Almas acontece em todo o país, mas é extremamente popular em Luang Prabang.
Aposto que você já deve ter lido que a Ronda das Almas é algo extremamente turístico, que as pessoas vão apenas para tirar fotos, que as comidas vendidas por lá são super faturadas e blá blá blá. Parte disso é realmente verdade. Mas os monges são monges e realmente irão comer apenas o que receberem durante a manhã. Sendo turístico ou não, são centenas de pessoas passando na rua pedindo comida.
De todos os lugares que fui, de todas as experiências que vivi viajando, poucas foram tão emocionantes como a Ronda das Almas.
Meninos enfileirados, descalços, com a cabeça raspada e numa ordem decrescente – primeiro os mais velhos e depois os mais novos, magrinhos, lá no final da fila, esperando um punhado de arroz ou qualquer outra coisa que os turistas e moradores queiram dar em um único pote.
E se isso ainda não te comoveu, dezenas de crianças ao lado desses monges, pedindo um pouco da pouca comida deles. Eu chorei!
E eles passam bem devagarinho, com a calma típica do Laos. E depois voltam para os templos, fazem a limpeza do chão, estudam, meditam, dormem e aí começa tudo novamente. Eles estão por todos os lugares e são muito curiosos (embora tímidos). Conversei com alguns e garanto que se você quer entender um pouco mais do Laos, a melhor fonte de informação sobre o país virá desses mini-monges.
Eu não gosto de acordar cedo, mas garanto que vale a pena sair da cama às 5 da manhã para ver a Ronda das Almas. Eu fui assistir na principal avenida da cidade (e consequentemente a mais lotada). Cheguei cedo porque é realmente lotado.
Dica – prepare a câmera e se tiver um tripé, leve com você. E, por favor, nada de flash. Respeite os monges. Viva a experiência. Garanto que você terá alguns minutos de paz, pois o ritual é mesmo emocionante.
Se todos os representantes religiosos do mundo fossem como esses aprendizes de monges, acho que o mundo seria um lugar melhor para se viver. Pelo menos seria um lugar mais humilde e com menos ostentação.