Nesse dia, todos os outros grupos madrugaram para ver os geysers e como nós já tínhamos visto, saímos um pouco mais tarde.
Vou ter que confessar que o clima entre o grupo já estava péssimo. O casal francês só falava que não via a hora de voltar para Uyuni, eu mal conseguia olhar na cara do motorista, o mexicano não falava nada e o casal belga só falava que tínhamos que reclamar na agência.
Então, o motorista apareceu e com um excelente café da manhã. Comemos pão duro todos os dias e, naquele dia, ele trouxe panquecas. Estranhamos o fato que ele estava de bom humor. Ele meio que pediu desculpas para o grupo (mas não pediu para mim) e percebemos na hora que ele viu a chance de ganhar uma gorjeta ir para o espaço.
Saímos em direção a algumas lagoas extras. Ele só falava que tudo era longe e que tínhamos que ser rápidos, mas estranhamente parou no meio da estrada quando o belga pediu. Forçamos mais um pouco a amizade e pedimos para ele parar mais algumas vezes e ele parou.
Já estávamos desistindo das nossas reclamações, porque tudo estava parecendo perfeito e parecia que ele estava nos recompensando pelo stress dos últimos 2 dias.
Chegamos na primeira lagoa e ele disse que ficaríamos apenas 5 minutos ali. Vou dizer que foi a lagoa mais linda que eu vi. Os flamingos deram um show a parte, voavam de um lado para o outro, mas obviamente que não conseguimos registrar essa cena porque ele não parou o carro com a desculpa que não era seguro. Qual era o perigo? Um ataque de flamingos?
Uma pena que a câmera não conseguiu registrar a beleza do lugar e a verdadeira cor da água. Pelo menos na minha memória, ainda consigo enxergar o verde esmeralda e o balé dos flamingos.
Para amenizar um pouco o clima, ele nos ofereceu uns pirulitos. Não posso negar que o cara era esperto e quando ele percebia que ficaria sem gorjeta, ele tentava nos subornar.
Depois, paramos numas formações rochosas bem interessantes, com umas plantas verdes muito estranhas.
E fomos seguindo viagem para a tão esperada Laguna Negra. Essa lagoa é escura e tem vários patos pretos que fazem um barulho que parece risada, então os bolivianos costumam dizer que os patos riem dos turistas.
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O lugar também era lindo. Os meninos queriam descer para tirar fotos mais perto dos patos e para variar, o motorista disse que não dava tempo.
Entramos todos no carro, ele pegou uma nova estrada e uns 5 minutos depois, ele disse que faltavam 2 horas para a gente chegar em Uyuni. Detalhe, eram 10 hs e o tour supostamente deveria acabar às 17 hs.
O mexicano se revoltou e falou que a gente não queria voltar para Uyuni meio-dia e que queríamos voltar para a Laguna Negra. Ele alegou que não tinha combustível suficiente para voltar até lá.
Os franceses e belgas falavam um espanhol básico, mas também entraram na discussão e o motorista insistia que não tínhamos motivos para reclamar, pois ganhamos um extra. Aí eles pediram uma ajuda para mim e para o mexicano para explicar que eles tinham perdido de conhecer a Laguna Verde à toa, porque tinha tempo de sobra no terceiro dia para ver os geysers que vimos no segundo dia (e, de fato, eles estavam certos).
Aí eu não me controlei e não sei como, lembrei dos 2 anos que fiz espanhol e falei num espanhol fluente para o motorista que ele era um idiota, mal educado, mal preparado e que se ele não gostava do que fazia, deveria mudar de profissão. Falei que se ele quisesse nos levar de volta meio-dia para Uyuni, tudo bem. Nós iríamos direto na Polícia Turística, reclamar de tudo que ele fez nos últimos dias, inclusive do assédio e das grosserias gratuitas com o grupo.
Ele realmente ficou preocupado, porque ligou para a agência e já avisou que estávamos revoltados, queríamos ir na polícia e obviamente já disse que ele não tinha culpa e que nós é que éramos “exigentes” demais.
Até então, ele estava dirigindo a 60 km por hora e depois da discussão, teve a cara de pau de começar a dirigir a 30 km por hora. Como eu estava na frente, continuei discutindo que agora quem queria voltar o mais rápido possível éramos nós e que era para ele acelerar. Ele fingiu que não escutou e nós passamos a falar inglês entre a gente decidindo o que fazer.
Paramos para almoçar e o mexicano estava com medo que ele fosse nos abandonar no meio da estrada. Então, o mexicano ficou dentro do carro e nem almoçou para garantir que chegássemos em segurança (achei exagero). O motorista era um idiota, mas não seria burro de deixar 6 turistas abandonados no meio da estrada (mas o mexicano continuava com medo).
Bom, chegamos em Uyuni já com uma notícia bombástica. Os mineiros bolivianos tinham bloqueado todas as estradas do país e não daria para sair de Uyuni. Eu já estava preocupada, porque precisava voltar para La Paz para pegar meu voo para São Paulo e só tinha 2 dias para isso.
Mas, antes de resolver a saga da volta para La Paz, nós precisávamos resolver a saga do tour. Eu e o mexicano contamos tudo o que aconteceu para a dona da agência (Tours y Bol). Ela pediu mil desculpas, disse que o motorista (Franz) tinha ótimas recomendações e que ela não sabia o que tinha acontecido.
Contei do episódio do assédio. Ela ficou bem chocada e o motorista teve a cara de pau de negar. Meu sangue ferveu e novamente comecei a bater boca com ele na frente de todo mundo e a dona da agência veio pedir para eu me acalmar.
Passamos 2 horas conversando e falando que se a Bolívia quer receber mais turistas, eles tem que estar preparados para isso. A dona da agência deu uma mijada no Franz na nossa frente, mas percebemos que era um joguinho deles, afinal ela não queria nos devolver o valor do tour.
O mexicano falou que nós queríamos que o motorista não recebesse nada pelo tour e que ela repassasse o dinheiro dele para a gente. Além disso, ele citava que tinha amigos no México, EUA e Japão e que não indicaria a agência para ninguém e ela pareceu não se importar.
Eu mencionei que tinha um blog de viagens no Brasil e que iria contar essa história por aqui e ela também pareceu não se importar. Depois de 2 horas, finalmente chegamos num acordo. Ela devolveu entre 50 e 100 bolivianos para todos. Como eu paguei menos pelo tour, eu recebi só 50 bolivianos. E o mexicano e os franceses que pagaram mais, ganharam 100 bolivianos.
Essa quantia não muda nossas vidas, mas espero realmente que o Franz tenha aprendido a lição. A dona da agência garantiu que ele foi demitido, mas sabemos que é mentira porque ela só falou isso depois que os belgas falaram que estavam indo na Polícia Turística. Olha, eu acho que todo mundo tem o direito de errar, mas também sou obrigada a citar o fato que se isso tivesse acontecido em um lugar mais preparado para o turismo, o motorista de fato teria sido demitido.
Tenho que reconhecer que a Ada (dona da agência) pediu desculpas, nos devolveu parte do dinheiro e depois nos ajudou a encontrar soluções para voltar para La Paz, mas vou escrever aqui o que eu falei para ela. Não posso indicar a Tours y Bol para ninguém. Foram 3 dias de inferno. Eu vou lembrar para sempre das paisagens maravilhosas do deserto, mas ao mesmo tempo, vou lembrar para sempre que o motorista estragou nosso tour desde o primeiro dia.
Também não posso deixar de escrever sobre o despreparo da Bolívia para receber os turistas. Tudo bem que é um país miserável e as pessoas ganham muito pouco e aí o cara vira motorista do tour do Salar porque essa era a única opção disponível na cidade em que vive, mas treinamento é essencial. Não dá para tratar mal quem traz dinheiro para o país. Não dá para chamar uma turista de velha porque ela tem 30 anos e é solteira e principalmente não dá para querer apressar um tour porque o motorista queria descansar mais cedo.
Além do Brasil, já conheço 42 países. Passei 100 dias no Sudeste Asiático que é uma região tão pobre como a Bolívia e eles estão muito na frente nessa questão de preparo e estrutura para o turista. Eles falam inglês, os tours são bons, os preços são justos e quem trabalha com turismo está sempre um sorriso no rosto. Não posso fazer muita coisa pelo turismo na Bolívia além de publicar esse relato. Espero que eles melhorem porque o país é realmente lindo.
Apesar de tudo, eu amei o Salar e espero um dia voltar, mas definitivamente farei um tour mais caro e com certeza, um tour privativo.