Sobre a vida no exterior: 850 euros, era tudo o que eu tinha quando fui morar em Portugal, 10 anos atrás. Na época, o euro estava quase na casa dos R$4,00 (aparentemente, qualquer semelhança com os dias de hoje não é coincidência). Eu tinha 22 anos, o que – acredite – é bem mais fácil para encarar qualquer desafio. Embora já tivesse um emprego garantido, não tinha lugar para morar, não sabia nada sobre Lisboa (ou sobre Portugal) e muito menos o que faria nos 12 meses do meu contrato de trabalho.
O conselho que dou quando me perguntam sobre a experiência de morar fora é sempre o mesmo: quanto mais jovem, melhor. Eu sei que falta maturidade (faltou para mim), mas é exatamente por isso que tudo é mais fácil. Dividir quarto, banheiro, casa com estranhos? Ok, no começo parece o fim do mundo e no final é tão triste quanto se despedir da família. Se você conhece alguém que fez intercâmbio (seja de estudo ou de trabalho), possivelmente já escutou a frase – “foi a melhor época da minha vida”.
E muitas vezes é. A minha certamente foi. Conheci pessoas maravilhosas que são meus amigos até hoje. Quando a gente se reúne, o assunto é sempre o mesmo: saudades daquela época. Hoje, temos maturidade para perceber que só foi tão bom porque éramos nós, na idade certa, na cidade certa, com a expectativa certa.
Muitos se adaptaram de volta ao Brasil e nunca mais pensaram em voltar. Esse (infelizmente) não foi meu caso. Desde que retornei (2006) não teve um dia em que eu não pensei em voltar de novo (mesmo sabendo que nada do que foi será do jeito que já foi um dia).
A síndrome do retorno é cruel. Se lá fora você morria de saudade de tudo no Brasil (até das coisas ruins), quando volta, a síndrome se inverte. Parece que tudo lá de fora é melhor e que a grama sempre foi mais verde. Você é que não sabia.
O problema é que a vida com dinheiro é boa em (quase) qualquer lugar. Não estou dizendo que é impossível ganhar dinheiro fora do Brasil. Só cheguei à conclusão (pelo menos para a minha profissão) que é mais difícil, leva mais tempo, consome mais esforço. Mas, mesmo sabendo de tudo isso, ainda acredito que é uma vida mais digna, uma vida mais igualitária, uma vida pela qual vale a pena lutar.
Quando coloco na balança tudo que gosto no Brasil, a primeira coisa que vem na cabeça é a espontaneidade. Quem me conhece sabe que dificilmente defendo o Brasil, mas quando esse é o assunto, sou a primeira a dizer: que maravilha que é a espontaneidade! Sabe aquilo de marcar qualquer coisa em cima da hora e conseguir cia? Pois é! É um tipo de coisa bem mais difícil no exterior. Se você chegar para um gringo e falar – “nossa, quanto tempo! Vamos tomar um café, colocar o papo em dia?” – possivelmente ele/ela irá pegar o celular e marcar na agenda um encontro para outro dia. Sim, diferenças culturais, todos temos, mas é difícil se acostumar.
Talvez por isso, os brasileiros acabam se encontrando pelo mundo afora. Em todos os países que morei, fiz muitas amizades com brasileiros. Por um lado, me arrependo, mas por outro, acho que não teria suportado sem eles.
A grande verdade é que ser “estrangeiro” não é fácil. Por mais que você domine o idioma, que você tenha a documentação, que você constitua família com alguém do local onde vive, você será sempre um estrangeiro. Terá saudades de muitas coisas (e muitas delas serão “saudades equivocadas” de coisas que já não são mais como eram ou do jeito que você lembra). Isso não é necessariamente ruim, é só uma constatação.
A vida no exterior está longe de ser perfeita, mas quem consegue se adaptar a tudo isso, já venceu metade do caminho.