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A saga de Uyuni – parte II

Foto retirada do site http://www.todoturismo.bo/. O tal ônibus da Todo Turismo

E eu achando que a saga para chegar em Uyuni tinha sido eletrizante. Obviamente eu mal sabia como seria a volta. Meu plano era terminar o tour de 3 dias de Uyuni, voltar para La Paz, ficar 1 dia por lá e depois pegar meu voo para São Paulo. Infelizmente, as coisas não puderam ser tão simples.

Durante o nosso tour, os mineiros bolivianos fecharam as estradas do país inteiro. Isso mesmo, do país inteiro! Nenhum carro, ônibus, caminhão podia pegar nenhuma estrada.

No último dia do nosso fatídico tour, o motorista nos informou que não poderíamos voltar para La Paz. Todos os turistas teriam que dormir em Uyuni. A única coisa boa do nosso tour não ter sido completo, foi que chegamos em Uyuni antes de todos os outros turistas e tivemos 3 horas extras para encontrar hotel e tentar encontrar alguma solução para voltar para La Paz.

Quem tinha a situação mais crítica era eu, pois precisava estar em La Paz na quarta, porque meu voo saía na manhã de quinta-feira. Nosso tour terminou na terça.

Depois de muita correria, a agência me recomendou voar com a TAM de Uyuni para La Paz. Essa TAM não é a nossa TAM, é uma TAM de transporte militar. Fui correndo e tentei garantir minha vaga no voo. Estava disposta a pagar os U$100 do ticket só que o sistema estava fora do ar e eles não podiam me confirmar se teria vaga no voo. Ficaram de ligar para a agência que eu fiz o tour e avisar se tinha ou não vaga.

Ligaram meia hora depois, dizendo que só voariam para La Paz, na quinta às 7 hs da manhã. Era tarde demais para mim. Meu voo saía de La Paz às 6 hs da manhã de quinta. A agência então me disse que eu poderia tentar voar com a Amaszonas. Saí correndo para deixar minhas coisas no hotel e fui em direção ao escritório deles e eles me falaram que o voo de quarta estava lotado, mas que existia a chance de sobrar um assento disponível.

Fiquei lá esperando a confirmação. Eu não poderia perder o voo de La Paz para São Paulo, senão perderia todos os outros voos comprados separadamente (fica a dica – às vezes o barato pode sair caro).

Um balde de água fria! Eles não tinham mais vagas no voo. Saí desolada em direção a uma lan house. Tentei ligar em vão para os números atrás do meu cartão de crédito via skype e não consegui. Já reclamei várias vezes com o Itaú que aqueles números não funcionam via skype. Eles me deram o número da Embratel da Bolívia para eu ligar a cobrar e também não funcionou. Tentei de um telefone normal e nada!

Consegui ligar para a central da Mastercard nos Estados Unidos que me transferiu para o Itaú (bom que falo inglês, né?). Quando a MasterCard atendeu nos EUA e me perguntou no que eles poderiam me ajudar eu imediatamente falei (meio sem pensar) – “estou presa na Bolívia” e o cara bem prestativo me perguntou se aquela era a ligação que os presos têm direito quando vão para a prisão. Juro que ri, apesar do meu desespero.

Demorou uns 10 minutos até eu explicar o que significava estar presa na Bolívia e até explicar que precisava falar com o Itaú no Brasil (sorte que a ligação era para um número 0800 nos EUA). Bom, não posso negar que o atendimento da MasterCard nos EUA é excelente e eles de fato me transferiram para o Itaú. Só que o Itaú obviamente não resolveu meu problema que no caso era comprar uma passagem extra saindo de Calama no Chile (as estradas em direção ao Chile estavam abertas). Eles disseram que coberturas do seguro desse tipo só se eu estivesse correndo risco de vida (tipo, se eu estivesse voltando ao Brasil moribunda, já com o pé na cova). Não sei se um seguro particular cobriria a emissão de uma nova passagem, mas fica a reflexão!

Bom, para mim, aparentemente só tinha sobrado a alternativa de ficar na Bolívia. Liguei para a Boliviana (cia que eu iria voar de La Paz para São Paulo) e eles me disseram que eles não tinham vaga nos voos para São Paulo até a próxima quarta-feira. Comecei a chorar no telefone.

Eu não tinha dinheiro para ficar na Bolívia até quarta. Meu cartão pré pago (VTM) estava zerado e eu não estava conseguindo sacar dinheiro nem com meu cartão de crédito e nem com o de débito, porque nem todos os caixas da Bolívia aceitam MasterCard. E eu só tinha U$100 em cash comigo. Chorava desesperadamente no telefone, até que o atendente se comoveu e disse que faria o máximo para me deixar na lista de espera para o voo de sexta e só me cobraria U$50 por essa remarcação. Porém, ele me disse que eu precisaria ligar dali uma hora para confirmar se tinha conseguido essa vaga.

Voltei para o escritório da Amaszonas e fiz uma proposta indecente para eles. Disse que estava disposta a pagar o valor integral do bilhete e voar no assento das aeromoças. Bom, é óbvio que eles não toparam.

Saí chorando da Amaszonas, quando me dei conta que não sabia o endereço do meu hotel. Saí correndo e esqueci de pegar um cartão. Sentei no meio fio e comecei a chorar muito. Até que um senhor se comoveu e veio me perguntar se eu tinha sido assaltada ou se alguém tinha me machucado.

Expliquei para ele a saga do voo e que não sabia em que hotel eu estava e ele segurou na minha mão e disse que iria me ajudar.

Começamos a rodar a cidade em busca do hotel. Uma hora e nada! Eu não conseguia parar de chorar e ele falou que se não encontrássemos o hotel, eu poderia dormir na casa dele. Sei que por um milagre, encontramos o hotel. Entrei, falei com a dona, perguntei do restante do grupo da excursão e ela disse que eles tinham saído para jantar. Nisso, o senhor me convidou para jantar. Tudo que eu queria era comer uma pizza (confesso que a comida do tour não era muito boa), mas não podia negar o convite do homem que rodou a cidade comigo por mais de uma hora e me ajudou a encontrar o hotel.

A história continua aqui.

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