Preciso Viajar

A vida em Londres – parte I

Quando um homem se cansa de Londres, ele se cansa da vida, porque há em Londres tudo que a vida pode oferecer.

Samuel Johnson

O sábio Samuel conseguiu resumir em apenas uma frase o que é Londres. Sei que muita gente não concorda, aliás, já escutei várias pessoas falando que Londres é superestimada. Bom, devo dizer que se tem uma cidade que para mim é superestimada, essa cidade é Nova York. Fui, conheci, não gostei e não tenho muita vontade de voltar. Já, Londres será para sempre a minha cidade no mundo.

Quem leu esse post, já sabe que apesar de eu amar Londres, ela foi uma madastra para mim. Eu sempre amei Londres, mas infelizmente ela nunca me amou.

Bom, não é segredo para ninguém que Londres é uma cidade cara. E quando eu cheguei, em 2005, uma mísera libra esterlina valia quase R$6,00. A sorte é que eu ganhava em euros em Portugal e na Itália, o que tornava a situação um pouco melhor. Em 2005, não tinha crise, então tinha bastante oferta de empregos.

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Só que uma coisa que muita gente não entende é que se tinha empregos, tinha muita gente para trabalhar também. Como a libra sempre foi mais valorizada que o euro, a cidade sempre recebeu muitos imigrantes da União Europeia. Para quem não sabe, o Reino Unido faz parte da UE, mas não adotou o euro como moeda oficial.

Junte a isso o fato do inglês ser a língua oficial e pronto! Todo mundo quer seu lugar ao sol (ou seria chuva?) em Londres. A triste verdade é que poucos irão conseguir esse lugar.

O meu grande erro foi ter confiado demais no inglês que eu tinha aprendido no Brasil e que não era bom. Tipo, eu entendia, eu lia, eu escrevia, mas falar…ah! Que vergonha que eu tinha do meu sotaque e de várias palavras que eu pronunciava de maneira errada.

Eu sei que tenho muitos defeitos, mas é inegável que minha maior qualidade é a determinação. E eu coloquei na cabeça que estava apta a competir de igual para igual com os europeus. Minha área era marketing e como eu tinha grandes multinacionais no CV até que eu conseguia umas entrevistas. Só que lógico que eu nunca recebia retorno por causa do meu inglês (bom, na verdade a falta de experiência de trabalho na Inglaterra também atrapalhava), mas o ponto é que não dava para esperar tanto tempo para arranjar um emprego.

Aí eu parti para o plano B que era trabalhar como garçonete/bartender. Lembro que eu morava num bairro muçulmano e indiano e todo dia ía em uma lan house procurar vagas (eu não tinha laptop muito menos wi-fi em casa). Aí imprimia uns 20 CVs por dia e saía distribuindo.

Tentei Starbucks e não rolou. Depois eu fui chamada para uma entrevista no Pret a Manger (uma rede de cafés). Era pertinho da minha casa, então eu já saí torcendo para dar certo. E parece que era meu dia de sorte. Cheguei, fiz a entrevista e me mandaram voltar no dia seguinte para fazer um “dia-treino”.

No dia seguinte, lá estava eu pronta para cortar legumes e preparar sanduíches. O dia foi tranquilo, eu achava que o pessoal tinha gostado de mim, mas no fim do dia veio a bomba. O pessoal tinha decidido que eu não era boa o suficiente para ficar. Olha, mas eu fiquei com tanta raiva, mas tanta raiva que saí chorando na Oxfort St e fui chorando de lá até a minha casa. Uma meia-hora a pé.

No meio do caminho eu ainda liguei para a minha prima (sim, ela estava morando lá também) e desabafei. E ela falou que tudo ía dar certo e que isso era Londres.

Sei que eu tive que partir para o plano C, que era basicamente trabalhar com eventos. Era o que todos os brasileiros que eu conhecia faziam. O tal do function. Tudo muito incerto. Tinha semanas que você tinha trabalho todos os dias e tinha semanas que você não tinha nada.

Mas dessa vez eu parecia estar com sorte mesmo. Fui escalada para trabalhar num evento de réveillon. Eles pagariam mais que a média e eu só precisaria vender as bebidas. Topei porque precisava do dinheiro e porque pensei que aquele seria apenas meu primeiro réveillon em Londres e eu teria tempo de sobra para ver as queimas de fogos na Tower Bridge.

Doce ilusão! O evento foi um fracasso, terminaram a festa antes do previsto (leia – faltando menos de meia-hora para a virada), pagaram menos do que o prometido (porque foram menos horas trabalhadas) e para resumir uma história triste – o réveillon de 2005 para 2006 eu passei dentro do metrô. Sorte que eu estava com a minha amiga  Andressa*(que sim, também estava trabalhando na festa e morando em Londres), mas só de lembrar eu tenho vontade de chorar. Eu nunca mais tive a chance de passar um réveillon em Londres.

(a saga é longa e eu não tenho o poder da síntese, então continua em outro post)

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