Uma vez em Berlim, é impossível fugir da História, seja da Segunda Guerra Mundial (nazismo e holocausto) ou da Guerra Fria (Muro de Berlim).
O Museu Judaico foi uma das atrações que fiz questão de visitar, pois o holocausto sempre foi um assunto que me intrigou (desde os tempos da escola). O bom de viajar é que podemos ter uma visão além dos livros.
Foi certamente o museu mais diferente que já vi no mundo. O arquiteto judeu Daniel Libeskind projetou o prédio de tal maneira que certas salas causassem um desconforto nos visitantes. A intenção é que você pare e reflita e o objetivo é alcançado. É um museu que não cansa (é interativo) e que faz você prestar atenção do começo ao fim.
Embora ele mostre a história dos judeus durante os últimos dois milênios, a parte que mais choca, obviamente, é a do holocausto.
Infelizmente, no dia que fui, a parte mais “famosa” do museu estava fechada: a sala com estátuas de rostos de ferro simbolizando os rostos das vítimas do holocausto.
Mesmo assim, outras salas do museu se destacam. A que mais me marcou foi a Torre do Holocausto, uma sala escura e fria, com apenas um vão no teto, por onde entra um feixe mínimo de luz. Se o objetivo era que você pensasse em abandono ou estar no fundo do poço sem saída, o objetivo foi cumprido. A sala me fez lembrar daquela célebre frase encontrada na parede de um campo judeu:
Eu acredito no sol, mesmo quando não brilha. Eu acredito no amor, mesmo quando eu não o sinto. Eu acredito em Deus, mesmo quando Ele permanece calado.
Também me senti incomodada no Eixo da Continuidade. As vigas de concreto me lembraram espadas, “rasgando” o que tivesse pela frente.
O Jardim do Exílio é outro destaque do museu. O chão é irregular propositalmente, de forma a causar um desconforto físico. Você chega a ficar tonto. Naquela hora pensei: “se estou passando mal aqui, imagina como se sentiam as pessoas que foram mandadas para campos de concentração?”. Um daqueles momentos em que você para, pensa e agradece pela sua vida.
É difícil sair do museu sem pensar como teve (tem) gente ruim no mundo. O Terceiro Reich, entre todos os assuntos da História, é o que mais me fascina. Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista, foi um dos grandes responsáveis pelo meu bacharelado em Publicidade e Propaganda. O que ele e Hitler fizeram na época foi uma verdadeira lavagem cerebral, o que prova que a propaganda pode ser uma arma. Meu objetivo lá em 2000, quando comecei meu curso, era usar o diploma para fazer propagandas “do bem”. Quinze anos depois, desisti da ideia. Infelizmente, o sistema é bruto.
Como publicitária (mesmo que não atuante). foi muito interessante ter tido a oportunidade de conhecer o Museu Judaico de Berlim por uma ótica, digamos, do lado atingido pela propaganda. Sei que o assunto é pesado, mas, se não lembrarmos das atrocidades que já foram feitas, corremos o risco de repeti-las.
Informações:
Endereço: Lindenstraße 9-14, 10969 Berlin, Alemanha
Preço: €8 (paguei €6 porque tive desconto com o Berlin Welcome Card).
Site: http://www.jmberlin.de/main/EN/homepage-EN.php
Recomendo pagar a taxa extra e fazer o tour áudio-guiado.
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4 comentários
Fernanda, imagino o que deve ter sentido! Já senti um nó na garganta na casa de Anne Frank em Amsterdã, imagina nesse museu. Ano que vem pretendo ir a Berlim e com certeza passarei por lá. Também sou muito interessada pelo assunto e não sei se vc já leu, mas recomendo o livro “Os últimos sete meses de Anne Frank”. É aquele tipo de livro do qual você termina e pelo menos por um instante, se sente grato por tudo que vc tem na vida e por todas as dores tão menores pelas quais passamos.
Li só o livro do diário. Procurarei esse que você falou.
Não deu tempo de ir neste museu quando fui a Berlim. Havia planejado 4 dias na cidade, acabei ficando 5 e mesmo assim não consegui ver tudo o que queria. Sempre fui fascinada por história, mas confesso que o século XX era o tema que menos me cativava. Depois que fui a Berlim, isso mudou. Como vc mesma disse, foi impossível fugir da história naquela cidade, e a forma como ela é contada me arrebatou. Voltei querendo saber tudo sobre a 2ª Guerra, o Holocausto, Guerra Fria… Tudo o que eu não entendia na escola passou a se descortinar de forma extremamente clara para mim. Em minha última viagem, quis visitar as praias do D na Normandia justamente com o intuito de “lembrar para não permitir que se repita”. Não é um turismo para todos, agradável, mas para quem quer entender o mundo em que vivemos. Hoje quero voltar a Berlim justamente pq tenho mais maturidade para esses assuntos. Antes de ir, uma amiga que lá morou por 1 ano me disse: “Berlim não é bonita. É interessante. Muito interessante.” Ela tinha razão.
Concordo com o que você disse, mas discordo da sua amiga. Acho Berlim muito bonita. Ok, na primeira vez achei interessante (muito) como sua amiga falou, mas, na segunda, vi uma Berlim toda colorida por causa da primavera. Se tornou incrivelmente linda.