Carona é algo bem comum no Hawaii (embora seja legalmente proibida, todo mundo pede e uma galera dá). Eu, Fernanda já disse que não sou adepta de carona. Nunca fui e depois do que passei no Líbano, confesso até que chego a evitar entrar em vans (mesmo quando elas parecem ser vans sérias). Mas, fui obrigada a pegar uma carona no Hawaii. O que aconteceu é que eu não sabia que Maui tem mais de um aeroporto e comprei uma passagem para Kapalua (contei tudo em detalhes aqui nesse post).
Quando eu cheguei em Kapalua percebi que tinha algo errado. Fui procurar o ponto do ônibus e não encontrei. Aí, voltei e encontrei um senhor havaiano que estava no mesmo voo que eu, e perguntei se ele sabia onde ficava o hostel. Ele riu! Disse que ficava a uma hora dali. E eu ingênua, ainda perguntei como eu podia chegar até lá de ônibus. Ele riu de volta e disse que não tinha ônibus.
Sorte que era de manhã e eu ainda tinha o dia todo para tentar descobrir um jeito de chegar no hostel (sem ter que vender um rim), já que o táxi custava U$135.
O senhor que chama-se Peter disse que tinha alugado um carro e iria para Wailuku (que era exatamente onde eu precisava ir) e poderia me dar uma carona.
Pensei 1 milhão de vezes antes de entrar naquele carro. O senhor tinha uns 60 anos, parecia ser um cara normal. Ele viu que eu estava com medo e fez questão de me mostrar a carteira de motorista para que eu pudesse identificar nome e sobrenome e etc.
Eu estava só com uma bolsa (não quis pagar U$17 para despachar a bagagem e viajei com meia dúzia de roupas), então entrei no carro e deixei a bolsa comigo, no banco da frente.
Para resumir, o Peter era um senhorzinho muito banaca. Não só meu deu carona por 60 km, como ainda me levou nuns pontos turísticos. Paramos para tomar café da manhã e almoçar e ele fez questão de pagar tudo. Também não me deixou pagar 1 centavo pela carona.
Depois do café da manhã, paramos no Iao Valley, que por sinal fica bem próximo ao hostel que me hospedei. O lugar é lindo, pena que estava um pouco nublado de manhã. Você pode fazer uma caminhada por lá (mais ou menos 3 km), mas nós não fizemos.
Depois, pegamos uma estrada (que infelizmente não sei o nome) e era cheia de curvas (eu fiquei bem enjoada) e fomos ver um pouco da costa de Maui. Vou falar que chegou um ponto que eu tava achando igual a África do Sul e em outro, eu achei igual o litoral sul de Santa Catarina (em uma das paradas, cheguei a pensar até que estava na Guarda do Embaú). Mas, era Maui mesmo.
Ficamos um tempão rodando a ilha e ele me contou um pouco da vida dele. Que está com a mesma mulher desde os 19 anos, que tem 2 filhos e que está lutando contra um linfoma (câncer) e que estava em Maui para a cerimômia de um ano de falecimento do filho do amigo. Pedi para ele me explicar um pouco mais essa história e aí ele me disse que é uma cerimônia havaiana, tem toda uma simbologia para eles e que o rapaz morreu em circunstâncias duvidosas. Ele possivelmente foi assassinado, pois foi encontrado morto no quintal da casa que morava. A polícia finalizou o relatório dizendo que ele morreu porque caiu da janela (mas a casa tinha 2 andares). Não encontraram drogas, mas o rapaz foi encontrado pelado no quintal. História sinistra!
E o pai resolveu fazer essa cerimônia para homenagear o filho. Como o filho viajava muito e tinha amigos em várias cidades dos EUA, ele pediu para que os amigos viessem e trouxessem umas pedras de cada cidade que o rapaz passou (confesso que perguntei três vezes, mas não consegui entender o motivo) para a festa. Sim, era uma festa, com muita comida e bebida para homenagear o filho morto. Costume totalmente diferente do nosso. Eu lembro que uma das experiências mais bizarras de choque cultural que tive na vida, foi o velório que fui nos EUA. Tinha música, muita comida e bebida e em nada lembrava um velório do Brasil (tá, OK que o morto em questão era um músico e não sei se o velório dele foi realmente diferenciado, mas foi estranho). E, lembro do velório do meu pai que foi completamente diferente disso. Para mim, morte é algo triste. Acho digno chorar a perda de alguém que você gostou e já não está mais entre nós, mas pensando bem, essa ideia de servir bebidas no velório até que não é tão ruim.
Ele até me convidou para a cerimônia, mas morte em geral não é um assunto que me agrada, seja com festa ou sem festa, então educadamente disse não.
O Peter me deixou no Banana Bungalow e foi para a casa dos amigos que realmente era muito próxima do hostel. Ele até me mostrou a casa. Sei que passadas umas duas horas, ele voltou para o hostel e me disse que o lugar não era seguro e que caso eu não quisesse ficar lá, eu poderia ficar na casa dos amigos dele. Agradeci a atenção, expliquei que hostel é daquele jeito mesmo (eu sei que americano em geral não entende muito bem o conceito) e ele me deixou o telefone dos amigos caso eu tivesse algum tipo de problema.
Meu episódio da carona foi ótimo como vocês podem notar, mas é aquela coisa. Melhor não dar chance para o azar.
6 comentários
Coragem a sua, viu? Depois do episódio do Líbano eu jamais entraria num carro com um estranho na minha vida! Uma das coisas que acho mais interessantes em outras culturas são os rituais – nascimento, casamento, morte etc, tanta coisa que não faz sentido nenhum para nós e faz tanto sentido para os outros. Tenho uma amiga mongoliana que me disse que os ocidentais são muito estranhos com relação a morte, ela simplesmente não entende como morte pode ser uma coisa triste, que pra ela ter saudade é normal mas ficar triste não, veja isso! Passamos um tempão conversando sobre isso e é realmente muito interessante. Agora vou parar de comentar pq conheci seu blog hj e comentei em todos os posts que li até agora, já já vc vai pensar que sou doida, beijos!
Olha, vou te falar que eu não ía entrar. Mas, como era EUA (leia – tem polícia sempre e a lei funciona, bandido é punido), eu pensei – OK. E o cara realmente parecia ser do bem (e de fato era). Mas, no começo foi tenso.
Eu curto muito as diferenças culturais, acho até que é por isso que amo tanto viajar. No fundo, todo mundo é muito diferente, mas todo mundo está buscando a mesmíssima coisa em qualquer lugar do mundo – a felicidade. Rodei 1 ano por 20 países para chegar a essa conclusão tão óbvia.
Velório nos EUA é diferente mesmo… tem comes, bebes, discurso, eventualmente música. É mais uma festa mesmo! Eu achei bizarro a princípio, mas depois até que simpatizei com a ideia, haha…
Na verdade, achei válida até a ideia de servir um goró no velório. rs
hahahaha não é que tava nublado pela manhã o iao valley não, lá é o segundo lugar mais humido do planeta, lá É nublado a maior parte do tempo
hahaha. Ok então!