Fiz uma pequena série de coisas que aprendi durante a minha volta ao mundo. A primeira e mais óbvia de todas elas é que não é preciso muito para ser feliz. No ano mais feliz da minha vida, eu tinha à disposição apenas uma mochila com 15 kg de roupas e acredite se puderem, em nenhum momento eu usei a famigerada frase “não tenho o que vestir”. Outra coisa que aprendi é que é possível ser você mesmo e que as pessoas deveriam gostar de você pelo que você é e não pelo que você finge ser. Sim, parece elementar, mas muita gente ainda não entende isso.
A constatação mais óbvia de todas é que não importa o país, não importa o sexo da pessoa, nem a idade, muito menos a cor ou a condição financeira que ela tem, mas no fundo, todo mundo está buscando apenas uma coisa na vida – a felicidade. E, é tão simples quanto isso. Todo mundo quer ser feliz. Ponto final.
Outra coisa que aprendi é que é fácil falar numa entrevista de multinacional que você moraria em qualquer país e que consegue se adaptar a outras culturas rapidamente, mas a verdade é que não é bem assim. A expatriação pode ser o paraíso para alguns e o inferno para outros. Depois da minha viagem, tenho convicção de quais seriam meus infernos e quais seriam meus paraísos.
Também me tornei muito mais flexível em tudo. Aprendi a aceitar diferentes hábitos culturais que podem até serem considerados rudes em grande parte do mundo, como o hábito chinês de escarrar e cuspir em qualquer lugar. No âmbito religioso, tive a certeza que Deus existe para quase todos e seja lá o nome que Ele tenha em qualquer religião, nós devemos respeitar. Também aprendi que fanatismo demais é perigoso e isso vale para tudo na vida.
Aprendi que respeito é uma palavra-chave e que está em falta em muitos lugares e em muitas situações. Também aprendi a me relacionar e ter uma comunicação mais eficaz com pessoas de diferentes níveis sociais. Não é porque alguém tem mestrado no exterior que é melhor do que o barqueiro que leva a vida carregando turistas nas ilhas da Tailândia.
Queria acreditar que voltei outra pessoa e tenho convicção que voltei muito diferente. O problema é que uma vez que você volta a rotina que você tinha, aos poucos tem que entrar no ritmo e esquecer várias coisas. O problema é que eu voltei muito mais crítica (para não dizer chata) e já não tolero certas coisas.
Passei a ser intolerante com futilidades, por exemplo. Antes de viajar, quando minha unha quebrava, eu logo ía no salão consertar, porque não cogitava ficar alguns dias com a unha quebrada. Eu era fútil, muito fútil. E só percebi isso quando voltei, quando passei a observar melhor o comportamento de certos amigos e me dei conta que o problema não era com eles, era comigo mesmo.
Nós nos dávamos bem e éramos próximos, porque eu também era daquele jeito. Eu era tão fresca que não comia nenhuma comida que ficava na geladeira, porque para mim, ela ficava com um gosto estranho. Ou estava fresquinha, recém-tirada do fogão, ou eu não comia. E pensar que comi gafanhoto, abelha frita e mais um monte de outras coisas estranhas pelo caminho.
É, a gente muda, ou melhor, a gente se adapta. É fato que sua cabeça se abre e não volta mais a pensar do jeito que pensava. A Fernanda que saiu definitivamente não é a Fernanda que hoje escreve esse blog. E isso não é necessariamente ruim, é apenas diferente.
28 comentários
Perfeito!! 🙂
🙂
Fe,
Se eu copiasse o texto pra colocar no meu blog, poderia dizer que escrevi. Será que uma volta ao mundo traz as mesmas indagações para as pessoas???
Hoje eu me sinto menos fútil e apegado a coisas que antes achava serem importantes. Sou mais tolerante e interessado na vida dos outros.
Adoro seus textos!!! Acho que é porque sinto que são um pouquinho meus 🙂
Beijos
Oi Gui,
Acredito que sim. Depois de ver tanta gente diferente, tanta dificuldade, tanta pobreza e claro, muita gente feliz, acho que não tem como não fazer uma constatação: não precisamos de muito para ser feliz.
As pessoas mais felizes que conheci eram as do Laos e de Fiji e ao mesmo tempo, elas nao tinham quase nada de bens materiais.
Esse mundo é lindo. Por isso amo viajar. E, acho que todo mundo deveria fazer uma volta ao mundo.
Beijos
Tem um vídeo muito bom sobre isso. Tem uma versão legendada em português, mas só encontrei essa em castelhano – bom para refletirmos:
Ou procurar no youtube por Nooma Corner.
Eu acho que é em viagens que a gente realmente se conhece. Longe da realidade do dia a dia, longe dos conceitos estabelecidos pela sociedade em que a gente vive, longe do julgamento daqueles que nos rodeiam, que a gente consegue realmente olhar pra dentro e ver o que está em nossa essência, e separar isso do que a gente faz seguindo a onda. E é por isso que dizem que “você nunca volta igual de uma viagem”.
A gente pode viver sem “maquiagem” durante as viagens.
Oi Fê!
Adoro os teus posts e cada vez que leio um deles fico com vontade de fazer uma volta ao mundo (ainda farei).
Mesmo não tendo ficado tanto tempo fora de casa (o máximo foi 30 dias), o mundo já me ensinou muita coisa também. Acho que a pessoa que volta de uma viagem nunca é a mesma que saiu. Sempre me pego refletindo nos meus retornos. Gosto de avaliar as coisas boas que as outras culturas tem pra me acrescentar!
Continua nos inspirando que qualquer dia eu largo tudo pra sair pelo mundo!
Beijos!
Com certeza. Nunca voltamos iguais de uma viagem.
mas no fundo, todo mundo está buscando apenas uma coisa na vida – a felicidade.
melhor definição que já ouvi sobre a vida!
empolgante eu diria!
Tão simples, mas tão real né?
Lindissimo e verdadeiro texto!
Eu voltei ha 1 semana de uma Volta ao mundo de 405 dias e compartilho de muitas coisas que você colocou neste texto tão real.
É impossivel não voltarmos melhores de uma experiência tão envolvente e marcante como esta.
Parabéns pelo seu blog, seus relatos e pelo “Dom” de expor de um jeito tão unico seus textos! 😉
Obrigada Lilian! Pelo visto todos voltamos diferentes de uma volta ao mundo.
Ri muito aqui, eu tenho a mesma frescura com comida requentada! E tenho total consciência de que é frescura, que é feio, morro de vergonha!
Acho que vou mostrar esse post pra minha família, vão fazer uma vaquinha pra bancar minha volta ao mundo! rs
Mas o mais legal desse post eu achei que foi ter esses insights sobre a antiga Fernanda. Como eu só conheci o blog, obviamente, após a viagem, é difícil imaginar que você já foi toda frescurenta um dia! 🙂
Nossa, extremamente fresca. Hahaha. Bom que mudei.
Fato!!! Aprendemos o que realmente importa para nós.
🙂
Inspirador Fer, vontade pegar minha mochila e cair no mundo 🙂
Obrigada Jonathan!
Excelente!
🙂
Amei o relato !
Acredito nisso tudo mesmo !
Espero em breve poder compartilhar a mesma experiencia !
Beijo
🙂
Excelente texto!! Encontrei seu blog por acaso e Adorei! Parabens!
Concordo com tudo oq escreveu!! Eu morei 1 anos e 3 meses nos EUA e Voltei outra Pessoa.
Eu diria que Voltei chata ate! Kkkk Voltei com uma visao mais critica, menos futil, e fico indignada com certas coisas q acontecem no Brasil!
Voltei diferente, que as amigas da faculdade ja nao fazem mais meu estilo, dá ate preguiça de encontra-las! Enfim, qdo eu tiver filho, e se eu tiver condicoes, com certeza ele vai fazer um intercambio para qualquer país que seja!
Como diz Mario Quintana: viajar é mudar a roupa da alma.
Se eu tiver um filho, com absoluta certeza vai fazer intercâmbio (nem que eu tenha que vender um rim para pagar a viagem). rs
Oi,, Fernanda.
Estou tentando pesquisar, para dar inicio a minha volta ao mundo porém ainda não consegui nada concreto, por onde começar prazos valores etc… terei que fazer tudo o mais barato possível… vc pode me ajudar moro em São Paulo..
O grande desafio da volta eh se encaixar novamente no espacinho que a gente deixou…. O desafio eh “usar” tudo que aprendemos no nosso dia a dia sem voltar fazer parte do antigo sistema….
Dificil voltar e se encaixar sem ser julgada – principalmente pela nossa sociedade fechada Curitibana!!!
Dificil voltar e não desejar todo dia estar lá!!
Beijos Paula